Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab
Sl 44
1Cor 15,20-27a
Lc 1,39-56
“Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu.” (Lc 1,45)
A liturgia de hoje nos convida a estarmos “atentos às coisas do alto, a fim de participamos da Sua glória”[1], da glória do Senhor Onipotente. O Domingo é o dia no qual nos dirigimos para a Igreja a fim de celebrarmos o culto divino. Na liturgia, “as coisas do alto” vêm ao nosso encontro, pois a liturgia terrestre é “antegozo da liturgia celeste”.[2] Por isso, o domingo é o dia modelar, o dia que nos ensina a viver na amizade com Deus. No domingo, o próprio Espírito do Senhor nos reúne em assembleia, para que ofereçamos ao Pai, pelo Cristo, o nosso louvor e ação de graças. Esse “dia que o Senhor fez para nós” (cf. Sl 117[118],24) nos ensina a sermos atentos às coisas do alto.
Neste dia especial de culto ao Senhor celebramos a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Esta Solenidade nos faz recordar que Maria, a primeira redimida pelo Cristo em vista da sua divina missão, foi também a primeira glorificada em corpo e alma nos céus. O dogma da Assunção de Nossa Senhora, proclamado pelo Papa Pio XII em 1950, não se preocupa em dar detalhes como, por exemplo, se Maria morreu ou não. Todavia, esta antiquíssima solenidade, celebrada desde os primórdios, sobretudo pelos cristãos orientais que a chamavam de “Dormitio Virginis Mariae”, ou seja, “Dormição da Virgem Maria”, não exclui a possibilidade da morte da Virgem Maria, uma vez que para nós cristãos, a partir de Cristo e sua Páscoa, a morte ganhou um novo sentido, passou a ser a nossa Páscoa pessoal.
O que o dogma da Assunção de Nossa Senhora afirma é que Maria não experimentou a corrupção da morte, ou seja, morrendo, foi imediatamente glorificada pelo seu Filho, sendo elevada em corpo e alma ao céu. Assim se expressa no n. 20, a Constituição Apostólica Munificentissimus Deus do Papa Pio XII: “com esta festa não se comemora somente a incorrupção do corpo morto da santíssima Virgem, mas principalmente o triunfo por ela alcançado sobre a morte e a sua celeste glorificação à semelhança do seu Filho unigênito, Jesus Cristo.” Maria experimentou antecipadamente aquilo o que é o destino de todo cristão, pois cremos “na ressurreição da carne” e isso significa que, por ocasião da sua segunda vinda, o Senhor “dará vida aos nossos corpos mortais” (cf. Rm 8,11) e reinaremos com Ele não somente em Espírito, mas também com o corpo glorioso que receberemos.
Nós sabemos que também morreremos, porém, diferentemente da Virgem Imaculada, experimentaremos a corrupção do sepulcro, e só na Parusia a nossa alma será novamente unida ao corpo glorioso que Cristo vai nos restituir. É o que nos afirma a segunda leitura de hoje: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada: Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois, os que pertencem a Cristo por ocasião da sua vinda.” (1Cor 15,22-23) O que nós experimentaremos por ocasião da Parusia do Senhor, Maria já experimentou e, por isso, já está unida em corpo e alma a Cristo nas alturas. É isto o que nos afirma o dogma da Assunção de Nossa Senhora.
Celebrar a Solenidade de Maria Santíssima é contemplar na vida da Virgem aquilo o que a Igreja espera ser. Maria é modelo da Igreja, uma imagem na qual os fiéis devem se espelhar. A primeira leitura deste domingo é interpretada tanto em referência à Igreja quanto em referência à Maria Santíssima. Maria é a mulher vestida de sol, que gera o fruto bendito, o Cristo Senhor, que “veio para governar todas as nações com cetro de ferro” e que foi elevado para junto do Pai, onde sempre esteve antes da sua Encarnação. A Igreja também é esta mulher que gera no mundo o Cristo, através da pregação da Palavra, do testemunho dos cristãos e dos sacramentos. A Igreja é esta que está fugitiva no deserto do mundo, mas sempre protegida por Deus.
Voltando-nos para o relato evangélico nos vemos diante do encontro de Maria e Isabel. Mal acaba de receber da boca do anjo o anúncio de que será a Mãe do Salvador, Maria sai ao encontro de Isabel, que se encontra no sexto mês de gravidez, a fim de prestar-lhe auxílio. Quando Maria encontra Isabel a criança pula de alegria no ventre da anciã e Isabel fica cheia do Espírito Santo. Maria é a portadora do Espírito e um Pentecostes acontece na vida de Isabel e João Batista, como já havia acontecido na vida da Virgem que trazia em seu seio o Salvador do Mundo.
Isabel, então, movida pelo Espírito Santo, exulta de alegria, alegria que em Lucas significa a chegada do Messias, e proclama verdades magníficas: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! (…) Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu.” Maria é a mulher bendita, no seio da qual é gerado o Salvador. Maria é a mulher bendita, nova Arca da Aliança, que guarda em si a Palavra de Deus! Maria é bem-aventurada porque acreditou; e, porque acreditou, será realizado nela conforme a Palavra do Senhor. A Palavra do Senhor é eficaz, conforme nos diz o Salmo 33,9: “Porque ele diz e a coisa acontece, ele ordena e ela se firma”. Unindo-se ao louvor de Isabel Maria canta o magnificat, este canto permeado de passagens do Antigo Testamento, onde Maria canta a glória do Senhor que realizou “grandes coisas” em seu favor.
Contemplando a vida da Virgem, desejemos imitá-la. Sejamos também bem-aventurados: acreditemos no que o Senhor prometeu! Sejamos, como Maria, homens e mulheres de fé. Guardemos em nós a Palavra a fim de que em nós também o Cristo seja gerado. Proclamemos com nossa voz que o Senhor “fez em nós grandes coisas, maravilhas!” Exultemos de alegria no Senhor que elevou aos céus em corpo e alma a Virgem Santíssima e que um dia também nos glorificará, dando-nos um corpo glorioso no Reino que Ele preparou para nós. Olhemos a Virgem e contemplemos aquilo o que a Igreja espera ser. Olhemos a vida da Virgem e a imitemos, a fim de sermos discípulos “bem-aventurados” porque guardamos em nós as promessas do Senhor.
[1] Cf. Coleta da Missa do Dia da Assunção de Nossa Senhora.
[2] Cf. Constituição Sacrossanto Concílio n. 8.