1ª Leitura: Is 55,6-9
Sl 144
2ª Leitura: Fl 1,20c-24.27a
Evangelho: Mt 20,1-16a
“Só uma coisa importa: vivei à altura do Evangelho de Cristo.”
O Evangelho é o coração da liturgia da Palavra, porque lança luz sobre todos os outros textos bíblicos que ouvimos. Hoje o trecho do Evangelho proclamado nos apresenta Jesus contando aos seus discípulos uma parábola a respeito do Reino dos Céus. Este trecho do capítulo 20 de Mateus, está na quinta parte do Evangelho, onde Jesus começa a falar a respeito da “vinda do Reino dos Céus”. Jesus está no território da Judeia e já enfrentou alguns embates com os fariseus em virtude da questão do divórcio (cf. Mt 19). Agora, nesta parábola, Jesus faz uma espécie de resumo da história da salvação. Um “chefe de família/administrador de uma casa”[1] resolve escolher empregados para trabalhar na sua vinha.
Ele escolhe empregados na primeira hora do dia e combina com eles um denário como diária pelo trabalho executado. Em outros momentos do dia ele sai e vai chamando outros trabalhadores para a sua vinha. Chega, enfim, a última hora do dia e o ele contrata ainda operários que trabalham apenas uma hora. No acerto de contas se manifestam as intenções dos corações. O chefe de família chama primeiro os empregados da última hora e lhes dá um denário, a mesma diária que havia combinado com os empregados da primeira hora. Chama depois os da primeira hora, que pensam que vão receber mais, e recebem o que ele havia combinado com eles, um denário. Este homem foi generoso com os últimos, sem deixar de ser justo com os primeiros. Todavia, os empregados da primeira hora se revoltam contra ele porque quis dar aos empregados da última hora o mesmo pagamento que receberam os empregados da primeira hora.
Nesta parábola o “chefe de família/administrador da casa” é o próprio Deus, nosso Pai, que chamou em primeiro lugar a Israel e com ele fez Aliança. Os empregados da primeira hora representam o povo de Israel, chamado em primeiro lugar por Deus, mas não porque Deus quisesse dar a salvação exclusivamente a eles e, sim, porque era da vontade de Deus que eles servissem de modelo para os outros povos, que deveriam também no tempo oportuno conhecer a “salvação de Deus”.
Os pagãos, aqueles com quem Jesus frequentemente travava contato, são os empregados da última hora, aqueles que estavam à toa na praça “porque ninguém os havia contratado”. Cristo os chamou para a vinha do seu Pai, o Reino dos Céus. O Pai, na sua infinita bondade, misericórdia e generosidade, que supera a nossa – porque os pensamentos d’Ele não são os nossos e os caminhos d’Ele não são os nossos (cf. Is 55,8-9 – primeira leitura) – quis dar aos pagãos o mesmo pagamento que havia combinado com Israel: a salvação. Muitos não aceitaram esse maravilhoso projeto de Deus: que a salvação fosse dada, também, na mesma medida, aos pagãos.
Israel de fato trabalhou mais, porque vivia já na fidelidade a Deus. Mas, ao chamar os pagãos na última hora, Deus quis revelar a sua gratuidade e mostrar a todos – pagãos e israelitas – que a salvação não pode ser comprada pelo nosso trabalho, mas que ela é puro dom gratuito de Deus. Não nos esqueçamos que a imagem do denário aqui é apenas simbólica. Na verdade, qual foi o “pagamento” dado por Deus a Israel e aos pagãos? Esse “pagamento” foi a salvação, oferecida gratuitamente a ambos. A fidelidade de Israel e a sua antecipada escolha não podiam conquistar-lhe a salvação. Essa é sempre dom gratuito de Deus que se derrama sobre os homens.
Poderíamos considerar ainda uma outra coisa. O fato de Israel ter sido antecipadamente chamado não deveria constituir um peso, ou um trabalho pelo qual se devesse exigir um pagamento. Israel deveria se considerar privilegiado pelo simples fato de ter conhecido antecipadamente a salvação. Deveríamos considerar ainda uma outra coisa. Israel deveria se alegrar com a salvação dos gentios, porque Deus quer que todos os homens se salvem, e nós, que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, devemos ter em nós sentimentos semelhantes aos d’Ele, e nos “alegrar com a sua alegria”. Os que não acolheram esse projeto salvífico do Pai ainda não haviam entendido plenamente aquilo o que tão bem nos expressa o Salmo 144 que rezamos hoje “Misericórdia e piedade é o Senhor, ele é amor, é paciência, é compaixão.”
Esta Palavra também ilumina a nossa vida de comunidade. Muitas vezes corremos o risco de, na Igreja, repetirmos o gesto dos fariseus. Muitos de nós caminhamos com Deus desde o nosso berço; outros foram atingidos pelo Evangelho em idade mais avançada; outros talvez no final da vida. Não importa. Para todos Deus reservou um único e precioso prêmio: a vida eterna. Não nos esqueçamos do refrão do salmo: “O Senhor está perto da pessoa que o invoca!” e ainda da profecia de Joel: “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (cf. Jl 3,5). O Senhor não faz acepção de pessoas e seja qual for a época da nossa vida na qual o tenhamos conhecido a todos está reservada a mesma e única recompensa, o mesmo único e gratuito prêmio: a salvação, o Reino Eterno preparado para nós desde a fundação do mundo. Aqueles que foram chamados antes devem apenas se alegrar por terem tido a oportunidade de servir por mais tempo a tão grande Senhor.
Que o Senhor nos ajude a compreender sua Palavra, a abrir nosso coração ao seu projeto salvífico e a viver, como pede o Apóstolo na segund
[1] Essas são as possibilidades de tradução do termo grego oikodespotes utilizado por Mateus.