1ª Leitura: Is 63,16b-17.19b;64,2b-7
Sl 79
2ª Leitura: 1Cor 1,3-9
Evangelho: Mc 13,33-37
“O que vos digo, digo a todos: vigiai.”
Com o primeiro domingo do tempo do Advento tem início um novo ano litúrgico. Este é como uma nova passagem de Deus por nossas vidas, dando-nos a chance de mais uma vez retornarmos à fonte da nossa fé, a fim de que possamos progredir na vida espiritual.
Ao começar um novo ano devemos nos deixar despertar pela Palavra de Deus. O grande patriarca São Bento nos diz na sua Regra: “Levantemo-nos então finalmente, pois a Escritura nos desperta dizendo: Já é hora de nos levantarmos do sono (Rm 13,11)”.[1]
O Advento é tempo de sermos acordados pela Palavra de Deus que nos exorta a estarmos vigilantes e a não dormirmos. As primeiras semanas do Advento são marcadas por um tom fortemente escatológico. Ao nos prepararmos para celebrar o Natal, ou seja, a primeira vinda do Salvador, nos recordamos que devemos estar vigilantes, porque este mesmo Senhor e Salvador, que veio uma primeira vez na fragilidade de um menino, deverá vir uma segunda vez, em todo o seu fulgor e glória, a fim de levar à plenitude a obra da salvação, instaurando definitivamente o seu Reino no meio dos homens.
O profeta Isaías proclama hoje para nós uma grande confiança em Deus. O profeta reconhece o seu pecado e o pecado do povo, mas proclama a sua grande confiança em Deus, que é nosso Pai. A sua oração é um clamor a Deus a fim de que Ele desça e salve o seu povo. O seu clamor é profético e Ele mesmo reconhece que, de fato, Deus desceu até nós e as montanhas se derreteram diante d’Ele. De fato, em Cristo, Deus desceu até nós, derretendo as montanhas que o pecado interpôs entre nós e sua graça salvífica. O profeta reconhece que Deus é nosso Pai e nosso construtor. Nós somos o barro e Ele, o oleiro divino, que nos molda segundo a sua vontade.
Ao celebrarmos o tempo do Advento devemos, como o profeta Isaías, reconhecer diante do Senhor a nossa imundície, o nosso pecado, a sujeira que foi se acumulando em nós. Devemos perceber que existem montanhas dentro de nós que ainda impedem a vinda do Salvador ao nosso coração. Devemos reconhecer o nosso pecado, mas proclamar a nossa confiança, de que a paternidade de Deus, o seu amor por nós é maior que o nosso pecado e devemos clamar a fim de que Ele venha até nós, a fim de que Ele nos visite com a sua santa presença, para que as montanhas do nosso orgulho sejam derretidas diante da Sua presença. Devemos nos deixar mais uma vez moldar por Ele, a fim de que não sejamos um vaso rebelde, que se recusa aos hábeis dedos do seu artesão.
Olhando para o Evangelho percebemos que Ele nos convida a experimentarmos o que está no centro deste tempo que celebramos: a vigilância. O cristão vive à espera do “momento”. A nossa vida é como um grande advento, tanto em sentido antropológico – porque estamos sempre esperando que algo novo irrompa – quanto em sentido religioso, porque aguardamos que a nossa esperança se concretize: a Vinda do Senhor. A nossa esperança está na Parusia. Cremos firmemente que Cristo voltará. Cremos também que se morrermos sem vermos a sua segunda vinda, nós estaremos diante d’Ele a fim de passarmos pelo juízo. Por isso, sabemos que de um modo ou de outro, inesperadamente, estaremos diante do Senhor. Esse será para nós “o momento”, o grande kairós. Nós somos os servos, que recebemos do Senhor que viajou para o estrangeiro tarefas a serem executadas. Devemos estar vigilantes, ocupando-nos com a obra que o Senhor nos confiou. Não sabemos a que horas o Senhor virá, nem a que horas nós seremos chamados a estar em sua presença, por isso precisamos estar vigilantes, acordados e não dormindo. Já São Pedro alerta os cristãos em sua carta “Sede sóbrios e vigiai. Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar.” (1 Pd 5,8). Devemos estar vigilantes, acordados, nunca dormindo, a fim de que o Senhor nos encontre preparados, à sua espera.
Dormimos quando nos acomodamos sobre o pecado; dormimos quando não oramos; dormimos quando não lemos espiritualmente a Palavra de Deus; dormimos quando nos deixamos dominar pelas atividades do dia a dia, até mesmo pelas atividades religiosas, e não reservamos tempo para Deus; dormimos quando pensamos que o nosso valor está naquilo o que fazemos e não naquilo que somos; dormimos, enfim, quando não paramos para escutar o Senhor que nos fala dia-a-dia. O que dorme, o que não vigia, o que não é sóbrio, acaba dominado pelo pecado. Despertemos do sono! Deixemo-nos acordar pela Palavra de Deus! Aproveitemos essa nova passagem de Deus em nossas vidas e, guiados pela Sua Palavra, preparemos nossas almas para Aquele que veio, virá e está no meio de nós!
Como nos exorta o Apóstolo na segunda leitura, mantenhamos nosso procedimento irrepreensível até ao dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Paulo afirma que é o próprio Cristo quem nos dará a perseverança necessária. Peçamos em nossa Eucaristia dominical, lugar onde nos congregamos para acolher como comunidade de batizados a Palavra de Deus, que o Senhor nos dê a graça necessária para que perseveremos até o fim!
[1] Cf. Prólogo, 8