Ap 7,2-4.9-14
Sl 23
1Jo 3,1-3
Mt 5,1-12a
“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.” (cf. Mt 5,8)
A Solenidade de hoje celebra a realização da promessa de Cristo na vida daqueles que souberam guardar puros os seus corações, na firme esperança de contemplar o Senhor. Celebramos hoje a Solenidade de Todos os Santos onde, como reza a coleta desta Eucaristia, o Senhor nos dá “celebrar numa só festa os méritos de todos os Santos”. Somos levados, assim, a refletir sobre este chamado fundamental que Deus faz a cada um de nós e que está na raiz de nossa vocação cristã: o chamado à santidade.
O Evangelho que a liturgia hoje nos apresenta é como que um conteúdo programático de vida cristã. Cristo está, qual novo Moisés, na Montanha, e ensina aos homens a Nova Lei. As bem-aventuranças proclamadas pelo Cristo, no início do sermão da montanha, são disposições do coração para que o homem possa viver a Lei dada por Deus a Moisés no Sinai, como, por exemplo: a pobreza de Espírito, a mansidão, o ter fome e sede de justiça, a misericórdia, a pureza de coração, a promoção da paz etc.
Todas essas classes de pessoas são bem-aventuradas e a cada uma delas é concedida uma promessa de salvação. Todas são convidadas a entrar na alegria de Deus e a encherem o seu coração de esperança, aguardando a recompensa que lhes será dada nos céus. Poderíamos nos deter sobre cada uma das bem-aventuranças. Contudo, olhemos de modo particular o v. 8: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.” O Papa Francisco, no n. 83 da Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, sobre o chamado á santidade, afirma: “Esta bem-aventurança diz respeito a quem tem um coração simples, puro, sem imundície, pois um coração que sabe amar não deixa entrar na sua vida algo que atente contra esse amor, algo que o enfraqueça ou coloque em risco.”
Para os puros de coração é prometida a visão de Deus. Se queremos ver a Deus devemos ter um coração simples, livre da duplicidade, buscando somente o bem por excelência que é Deus, porque n’Ele encontraremos todos os outros bens dos quais necessitamos.
Buscamos a pureza de coração porque queremos “ver a Deus”. Quem é puro de coração de uma certa forma já contempla Deus aqui, porque começa a ter sobre o mundo e os homens um pouco do olhar de Deus. Todavia, é sobretudo a visão beatífica que aguardamos. Aquele dia no qual nos apresentaremos diante do Senhor, diante do seu trono, trazendo as nossas vestes alvejadas no Sangue do Cordeiro, aquele dia no qual nós agitaremos as nossas palmas, como sinal da nossa vitória.
Essa é a visão de João na primeira leitura. O vidente de Patmos está numa liturgia, no Dia do Senhor, e contempla coisas maravilhosas. Hoje a visão de João se realiza para nós, embora ainda em figura. Também somos essa multidão de santos, que trajamos espiritualmente a veste branca do nosso batismo e nos apresentamos diante do trono do Cordeiro, agitando os ramos espirituais que trazemos. Mas, o que nos anima é a certeza de que nós estaremos também, um dia, unidos a estes a quem hoje celebramos, trajando nossas vestes brancas, alvejadas no sangue do Cordeiro e estaremos diante do trono do Senhor da glória e Ele será, então, “tudo em todos” (1Cor 15,28).
Enquanto aguardamos esse dia, nos consolemos com a Palavra do Apóstolo João que nos anima na segunda leitura. João nos apresenta qual deve ser o motivo da nossa alegria: “Sermos chamados Filhos de Deus! (cf. 1Jo 3,1)” João nos comunica isso como certeza: “Nós o somos!” João nos enche de esperança, quando afirma: “Nem sequer se manifestou o que seremos (…) quando Jesus se manifestar seremos semelhantes a Ele porque o veremos tal como Ele é.” A visão plena do Cristo, realizará em nós a epifania plena da santidade que Ele nos concedeu. Enquanto caminhamos nesta vida, na alegria de sermos filhos de Deus e no desejo de ser para o mundo sacramento dessa santidade recebida do Cristo como Dom, voltemos o nosso olhar para Ele e o contemplemos, porque é contemplando-o que nós vamos deixando aflorar em nós a verdadeira santidade que Ele nos ofertou como dom.
Poderíamos concluir nossa reflexão, com as palavras do Papa Francisco sobre Maria, como modelo de vivência das bem-aventuranças: “Desejo coroar estas reflexões com a figura de Maria, porque Ela viveu como ninguém as bem-aventuranças de Jesus. É Aquela que estremecia de júbilo na presença de Deus, Aquela que conservava tudo no seu coração e Se deixou atravessar pela espada. É a mais abençoada dos santos entre os santos, Aquela que nos mostra o caminho da santidade e nos acompanha. E, quando caímos, não aceita deixar-nos por terra e, às vezes, leva-nos nos seus braços sem nos julgar. Conversar com Ela consola-nos, liberta-nos, santifica-nos. A Mãe não necessita de muitas palavras, não precisa que nos esforcemos demasiado para lhe explicar o que se passa conosco. É suficiente sussurrar uma vez e outra: ‘Ave Maria…’.” (Gaudete et Exsultate, 176).