1ª Leitura: At 12,1-11
Sl 33 (34)
2ª Leitura: 2Tm 4,6-8.17-18
Evangelho: Mt 16,13-19
Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo (Mt 16,16)
A celebração do domingo constitui o centro da vida do povo cristão. De fato, como os antigos mártires dizemos: “Não podemos viver sem o domingo!” Neste dia central da nossa vida, dia que dá sentido à toda nossa existência, nós nos reunimos em assembleia, para celebrar o Mistério que para nós se deu no dia de domingo: o Mistério da Páscoa do Senhor! Esse é o único mistério que a Igreja celebra, o mistério do seu Senhor que morre e ressuscita para lhe dar uma nova vida. É verdade que nestes tempos de pandemia nem todos podem vir, ainda, à Igreja. Contudo, se o desejo de estar reunidos em assembleia cresce em nosso coração, isso é um sinal de quem em nós a vida nova do Espírito está pulsando. Quando tudo passar, e vai passar, poderemos nos reunir e abraçar, celebrar e louvar, jovens e idosos, crianças e adolescentes, ao Senhor nosso Deus.
Ao celebrarmos a Solenidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, outra coisa não estamos celebrando que a Páscoa de Cristo na vida deles. Pedro e Paulo, dois que, na expressão de Santo Agostinho, “eram como um só”.[1] Os seus corações pulsam de amor pelo Cristo e por Ele desejam ardentemente dar a própria vida. Em seu martírio os dois se unem à Páscoa do Senhor, Paulo pela espada e Pedro, pela cruz.
O Evangelho que hoje ouvimos nos coloca diante da confissão de fé de Pedro. Jesus interroga aos discípulos a respeito do que pensam d’Ele os homens: a resposta é confusa! Jesus, então, pergunta sobre o que pensam d’Ele os seus discípulos. Pedro, tomando a frente e respondendo por si e pelos seus companheiros afirma: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!” Pedro responde ao Senhor não com a obscuridade e a duplicidade de crenças meramente humanas, mas com a clareza da fé, que não é dada a Pedro por algum ser humano, mas pelo Pai que está nos céus. O Pai dos céus nos envia o seu Espírito, que abre os nossos olhos para respondermos a pergunta do Cristo, que é hoje repetida a cada um de nós: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Esta é uma resposta pessoal que devemos, também nós, dar ao Senhor. Quem é o Cristo para nós? Desta resposta depende todo o nosso caminhar!
Pedro vem de Pedra, como cristão vem de Cristo,[2] nos recorda o mesmo Santo Agostinho! O cristão é o sacramento, o sinal vivo do Cristo! Pedro é o sacramento, sinal vivo da fé, que é a rocha sobre a qual o Senhor edifica a sua Igreja. A Igreja está edificada sobre o fundamento dos apóstolos, como nos diz a carta aos Efésios, porque estes são, para nós, o sacramento da rocha, da fé firme no Cristo Senhor, sobre a qual a Igreja está fundada. A Igreja é a casa construída na Rocha. Os ventos dão contra esta casa comum, mas ela não caiu, porque está fundada sobre a Rocha que é a fé, sobre a Rocha que é a Palavra, realidades das quais Pedro torna-se sacramento.
Pedro recebe as chaves, o poder de ligar e desligar, de manter preso ou de libertar. A primeira coisa que Pedro desliga é a sua incredulidade. Aquele que havia se atado pela incredulidade negando três vezes o Cristo, agora se desliga pela tríplice confissão de amor e se torna Pastor das ovelhas, sacramento daquele que é o único pastor (Jo 21,15-19).
Devemos ter presente em nós a clareza da fé que animou estes santos apóstolos. É a luz da fé que ilumina este mundo tantas vezes envolto em trevas. Pedro e Paulo seguiam o Senhor com a clareza da fé e, com certeza, diante de tantos sofrimentos pelos quais passaram, puderam no final de suas vidas cantar com o salmista: “De todos os temores me livrou o Senhor Deus”.
Caminhemos na luz da fé e experimentaremos também o Senhor nos livrando de todos os temores. O anjo do Senhor vem acampar ao nosso redor, e nos salva. De todos os temores o Senhor nos liberta. Vejamos o que diz o salmista: o Senhor não nos liberta de todas as situações de dificuldade que causam temor, mas do temor causado por estas situações. Por que não tememos? Os ventos dão contra a casa e não tememos? Os sofrimentos e a morte são tão palpáveis e não tememos? Por quê? Porque o Senhor está no meio de nós e Ele nos liberta de toda angústia e de todo temor, porque nos dá a certeza de que contemplaremos a sua face e isto nos basta. Afinal, “de todos os temores nos livrou o Senhor Deus” (Sl 33,5).
[1] AGOSTINHO, Sermão 295, Patristica Latina 38,1348-1352. In: Liturgia das Horas, v. III, pp. 1393-1394.
[2] AGOSTINHO, Sermão 295, Patristica Latina 38,1348-1352. In: Liturgia das Horas, v. III, pp. 1393-1394.