1ª Leitura: Ex 34,4b-6.8-9
Sl (Dn 3)
2ª Leitura: 2Cor 13,11-13
Evangelho: Jo 3,16-18
A Igreja celebra neste domingo após Pentecostes a Solenidade da Santíssima Trindade. É a primeira das três grandes solenidades do Tempo Comum, que inclui ainda as Solenidades de Corpus Christi e do Sagrado Coração de Jesus.
Esta é uma solenidade que chamamos de “didática”, tendo em vista que não estamos celebrando um dos “mistérios” da vida de nosso Salvador, como seu nascimento, ressurreição, ou ascensão, mas estamos celebrando uma verdade de fé: Cremos na Trindade!
Na Sagrada Escritura Deus vai revelando-se paulatinamente no Antigo Testamento, até que, em Cristo, a revelação se torna plena. Na primeira leitura ouvimos um trecho do livro do Êxodo que nos narra a aparição de Deus, na nuvem, para Moisés, no Sinai. Este trecho nos mostra como Moisés reconhece a essência de Deus, que é amor. É assim que o homem de Deus o chama: “Senhor, Senhor, Deus misericordioso e clemente…” Nos versículos seguintes, Moisés pede que Deus caminhe com o povo, que perdoe seus pecados, mesmo sendo aquele povo um povo de cabeça dura: “Senhor, caminha conosco…”
A primeira leitura ecoa no Evangelho. Se, no livro do Êxodo, Moisés reconhece que Deus é “misericordioso e clemente”, nos Evangelhos fica claro, na missão do Filho, que veio de junto do Pai, porque sempre esteve junto do Pai (cf. Jo 1,1), que Deus, de fato, é amor. Jesus afirma veementemente no Evangelho que a sua missão é uma missão salvífica: Ele não foi enviado para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Eis aí a grande prova do amor de Deus: “Deus amou tanto o mundo, que enviou o seu Filho Unigênito” (cf. Jo 3,16). Em Cristo, no mistério da sua Páscoa, a morte foi vencida. Quem nele crê, possui a vida eterna. A possibilidade de condenação está nas mãos de cada um, que é livre para acolher ou não o Cristo que veio nos manifestar o amor do Pai, sua graça salvífica, sua misericórdia e seu poder de vencer a morte e de nos dar a vida eterna.
Bem cedo as primeiras comunidades cristãs compreenderam o mistério da Trindade, ainda que embora a formulação de um dogma tenha se dado depois, justamente quando começava a ser questionada essa verdade de fé já compreendida pelas primeiras comunidades. Vemos isso no final da primeira leitura, quando Paulo saúda a comunidade de Corinto com uma formulação trinitária, que usamos, também, no início da celebração da Eucaristia: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13,13).
Eis diante de nossos olhos o mistério da nossa fé: Deus é um só, mas em três divinas pessoas. Os três recebem nossa igual adoração, nosso igual louvor, nossa igual ação de graças. O Catecismo afirma no n. 234 que o mistério da Santíssima Trindade é o “Mistério central da nossa fé”, tendo em vista que em “Nome da Trindade” fomos batizados e é também em seu nome que começamos e terminamos todas as nossas orações, públicas e privadas. No Novo Testamento, vemos que o Pai nos revela quem é o Filho, sua voz se faz ouvir no seu batismo no Jordão e, no monte da Transfiguração, Pedro, Tiago e João receberam o testemunho de que ali estava o “Filho amado” do Pai. Cristo, por sua vez, promete que enviará um “outro Paráclito” (cf. Jo 14,16), o Espírito que procede do Pai. De fato, em Pentecostes tal promessa se cumpriu e, desde então, a Igreja é conduzida por esse divino Paráclito, que na sua força torna o Cristo sempre presente no meio de nós e nos faz entrar em comunhão com o Pai, de modo muito particular quando celebramos os divinos mistérios.
O mistério da Trindade sempre encontrou eco nas grandes catequeses e homilias dos Padres da Igreja. Evocamos aqui dois textos. O primeiro é a Catequese 16 de São Cirilo de Jerusalém. Assim ele afirma: “O Pai, por meio do Filho junto com o Espírito Santo, é quem dá tudo. Não nos dá algumas coisas o Pai e outras o Filho e outras, ainda, o Espírito Santo, pois é uma só a salvação, um só o poder, uma só a fé. Para a salvação nos é suficiente saber que Ele [Deus] é Pai, Filho e Espírito Santo”. Outro Padre da Igreja, São Gregório Nazianzeno, fala do mistério da unidade que existe em Deus Uno e Trino: “Cada um considerado em si mesmo é Deus todo inteiro… Deus os Três considerados juntos. Nem comecei a pensar na Unidade, e a Trindade me banha em seu esplendor. Nem comecei a pensar na Trindade, a Unidade toma conta de mim.”
No Batismo fomos mergulhados na vida trinitária, nos tornamos morada de Deus. Mesmo nestes tempos de isolamento, sabemos que não estamos sozinhos, porque a Trindade jamais nos abandona. Deus está conosco. A certeza de sua presença, de que Ele “caminha conosco”, de que Ele habita em nós, deve nos dar força e ânimo para seguirmos em frente, mesmo diante dos desafios do momento presente. Que nossos corações se abram, para sempre recebermos em nós a “graça do Senhor Jesus Cristo” e o “amor do Pai”, a fim de vivermos na “comunhão do Espírito Santo”.