O mês de junho é, pela piedade católica, consagrado ao Coração de Jesus. Esta devoção visa a cultuar o Amor de Deus aos homens, simbolizado pelo sinal do coração. Uma vez concluídos os ciclos de Natal, Páscoa e Pentecostes, a Igreja quer deter-se, com especial afeto, sobre a razão de ser mais profunda de toda a história da salvação, ou seja, o Amor daquele que primeiro nos amou (cf. 1Jo 4,19).
O coração na Bíblia significa a sede do pensamento e dos afetos do homem, de tal modo que, quando o Senhor anuncia a conversão do seu povo, promete: “Dar-vos-ei um coração novo… tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne” (Ez 36,26).
O Coração de Jesus é a expressão concreta do Amor de Deus, que não recusou assumir a sorte do homem para santificá-la e transfigurá-la. Pelo Coração de Jesus que batia, era o amor de Deus que pulsava; nesse Coração achavam-se todos os tesouros da sabedoria e da ciência para se manifestar aos homens; por isto o próprio Jesus convidava: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Traspassado pela lança do soldado, esse Coração deixou correr água e sangue, ou seja, os sacramentos do Batismo e da Eucaristia, as torrentes de graças que percorreriam os séculos a fim de atingir todos os homens; cf. Jo 19,31-37.
Com o passar dos tempos, a piedade cristã foi-se voltando mais e mais para o símbolo do Coração de Jesus. Foi, porém, no século XVII que a devoção ao Sagrado Coração se irradiou de maneira decisiva. Campeava então o jansenismo, ou seja, a heresia segundo a qual Jesus não teria morrido por todos os homens, mas por alguns apenas; o Cristianismo se tornava frio e apavorante. Nesse contexto, Jesus apareceu a Santa Margarida Maria Alacoque († 1690) e lhe apresentou o seu Coração, dizendo: “Eis o Coração que tanto amou os homens, a quem encheu de inúmeros benefícios, e que, em troca do seu Amor infinito, em vez de gratidão, só recebe indiferença ofensas e esquecimento. É assim que lhe respondem até mesmo aqueles que (pelo amor privilegiado que recebem) lhe deveriam responder com especial amor”. Mais adiante, referindo-se à displicência e mesmo aos sacrilégios de pessoas consagradas, acrescentava Jesus: “Eis as feridas que recebo de meu povo eleito. Os outros se satisfazem em ferir o meu corpo; estes, porém, atacam o meu Coração”. Estas palavras lembram os “impropérios” cantados pela Liturgia de Sexta-feira Santa e inspirados em Miquéias 6,1-14; Salmo 54,13-15.
Possa o mês de junho, dedicado ao culto do Amor de Deus a todos os homens, suscitar nos cristãos novo surto de amor que responda generosamente ao Primeiro Amor!
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 373, Jun/1993.