Os romanos legaram à posteridade um axioma que vale a pena aprofundar: In omnibus respice finem (em tudo o que faças, olha para o fim). Estes dizeres transmitem grande verdade: o fim projeta luz sobre as etapas da caminhada; indica o caminho para que o viandante tenha a alegria de chegar à meta almejada; se, durante o processo, esquece o alvo para onde deve ir, arrisca-se a graves desastres.
É oportuno pensar nisso no começo de novo ano. Cada indivíduo concebe então os objetivos que pretende atingir nos próximos meses. Principalmente os empresários têm seu planejamento para os anos seguintes… aspirando a mais eficiência e mais lucro. O cristão, porém, não se pode limitar a isso; compete-lhe olhar para o Fim dos fins, que dá sentido a todos os fins próximos, ou seja, o encontro face-a-face com a Beleza Infinita, que há de satisfazer a todos os anseios da criatura. Afinal de contas, o ser humano não foi feito apenas para ganhar dinheiro e conquistar este mundo; tudo isso é pouco demais para quem tem a capacidade do Infinito. É preciso recordar sempre que cada vitória no plano terreno é apenas um trampolim para chegarmos ao Absoluto.
Verdade é que muitas pessoas se furtam a pensar no Fim dos fins; seria masoquismo. De resto, pensam, há muito tempo para começar a pensar no Grande Fim; assemelham-se ao timoneiro que deixa o barco ir à deriva, porque ainda longe do porto. Na realidade, ninguém tem certeza de estar diante do FIM; este pode fazer-se presente a qualquer momento. E, presente, pode causar imensa alegria como também pode suscitar espanto e desespero: alegria, para quem sempre o esperou e almejou, para quem sempre lhe dirigiu seus passos; espanto para quem perdeu a consciência de ser um caminheiro e se deteve distraidamente nas aventuras da estrada.
O começo deste ano é ocasião propícia para revolver tais idéias. Tenho meus projetos e meus objetivos no plano material; não os perderei de vista, porque são de importância vital para mim. Mas não corra eu o risco de esquecer que essas metas não são capazes de preencher minhas mais profundas aspirações. Afinal tudo o que passa, é aceno, é uma seta que diz: “Vá mais adiante! Não sou tua resposta. Sou apenas uma imagem do verdadeiro Bem, para o qual foste feito”. Quem adota esta mentalidade, não se surpreenderá com o encontro final, porque já o terá antecipado.
Em suma, possa a sábia norma “In omnibus respice finem” falar fundo ao coração de cada um(a) de vocês!
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 476, Fevereiro/2002.