1ª Leitura: At 10,34a.37-43
Sl 117
2ª Leitura: Cl 3,1-4
Evangelho: Jo 20,1-9
Ressoa em nossos ouvidos a alegria do grito contido em nossos corações nos dias de Quaresma: “Aleluia! Cristo Ressuscitou como disse! Aleluia!” A “oração coleta”[1] desta celebração eucarística nos ilumina neste tempo feliz da Páscoa do Senhor: “Ó Deus, por vosso Filho Unigênito, vencedor da morte, abristes hoje para nós as portas da eternidade. Concedei que, celebrando a ressurreição do Senhor, renovados pelo vosso Espírito, ressuscitemos na luz da vida nova.”[2]
Nosso Senhor Jesus Cristo venceu a morte e abriu-nos as portas da eternidade. E nós, ao celebrarmos a sua ressurreição, a cada domingo na Eucaristia, neste “dia que o Senhor fez para nós” como canta hoje o salmista, somos renovados pelo Espírito e já participamos da ressurreição de Cristo, abraçando a nova vida de cristãos.
A cada ano, Deus nos dá a graça de nos renovarmos pela celebração da Páscoa de seu Filho. Sempre é a sua Páscoa que celebramos quando nos reunimos em assembleia. Todavia, faz-se necessário, nesta solenidade anual, renovar a nossa esperança e reavivar em nossa mente a força desse acontecimento glorioso. No meio deste tempo difícil que estamos vivendo, quando nos sentimos, em virtude de nosso confinamento, como Lázaro em seu sepulcro, a voz do nosso amigo, Nosso Senhor Jesus Cristo, nos chama pelo nome e nos convida a entrar na alegria que deve despertar em nós a celebração do Mistério de sua Gloriosa Ressurreição, ainda que o façamos distantes de nossas comunidades.
Foi num dia como hoje, num domingo, no primeiro dia da semana, que Maria Madalena foi ao túmulo, quando ainda estava escuro, e, vendo a pedra removida percebeu que lá não estava mais o seu Senhor. Ela pensava que haviam levado o seu corpo. Todavia, João nos revela no seu evangelho que, quando ele entrou no túmulo, depois de ter dado a precedência a Pedro, ele viu os sinais – o túmulo vazio, os panos enrolados em um lugar à parte – e ele, então, acreditou. Em que João acreditou? Acreditou na Palavra que Cristo havia lhes dito: que Ele devia ressuscitar dentre os mortos.
Madalena, João e Pedro se anteciparam, foram movidos pelo amor. Maria Madalena, nos diz o evangelho, vai ao sepulcro enquanto ainda está escuro. Ela é a primeira a ver os sinais da ressurreição e será, também, a primeira a ver o Ressuscitado. Ele aparece a uma mulher: a alguém cujo testemunho não gozava de autoridade. Ele sempre e continuamente escolhe os pequeninos. Devemos imitar Maria Madalena: antecipemo-nos para contemplar o Senhor na sua ressurreição. Corramos como João e Pedro que quiseram também ver o que Madalena havia visto. Era o Ressuscitado que interiormente os atraia. O Ressuscitado também interiormente nos atrai. Ele suscita em nosso coração uma esperança renovada, dizendo-nos interiormente que o mal não tem a última Palavra. A última quem tem é o Verbo feito carne, o Deus da vida, que ressuscitou dos mortos e que dará vida também a nossos corpos mortais (cf. Rm 8,11). No meio de toda essa crise que estamos vivendo, deixemos que a luz da Ressurreição dissipe as trevas do mundo e nos faça para o futuro com renovada esperança, certos de que o Senhor enxugará nossas lágrimas e transformará o nosso pranto em dança (Sl 29[30],12).
A Ressurreição de Cristo é o centro da nossa fé. Como nos diz São Paulo em seus escritos: “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa fé.” Pedro se coloca como testemunha da ressurreição como ouvimos na primeira leitura, contudo, a primeira a encontrar o ressuscitado e a dar testemunho disso aos irmãos é uma mulher; alguém, como dissemos acima, cujo testemunho não era assim tão relevante. Se os evangelistas conservaram esse testemunho, isso é sinal de que eles não inventaram nada, mas pelo contrário, o encontro com o Ressuscitado foi tão forte que os fez entender tudo o que Cristo havia dito e realizado sob um novo olhar. O que antes eles viam “sem realmente ver” e ouviam “sem realmente ouvir”, agora se lhes torna claro, porque recebem a luz da ressurreição.
“Este é o dia que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e nele exultemos!”, nos diz o salmista. Alegremo-nos sabendo que “a mão direita do Senhor nos levantou”. Ele nos levantou do pecado, das trevas e da morte e nos deu uma vida nova e, quando passarmos deste mundo para o Pai, Ele nos levantará definitivamente. Alegremo-nos e vivamos estes cinquenta dias do Tempo Pascal, como “um grande e único domingo”[3], como um dia de festa solene, em que a alegria do Ressuscitado deve encher de júbilo e luz o nosso coração.
[1] A oração com a qual são concluídos os “Ritos Iniciais”.
[2] Coleta do Domingo da Páscoa.
[3] A expressão é de Santo Atanásio.