A vida cristã pode ser apresentada sob diversas imagens. Precisamente em Fevereiro, quando os cristãos começam a Quaresma, a Liturgia lhes lembra que se trata de “militância contra o espírito do mal” (Missal Romano, 4ª. Feira de Cinzas).
O combate travado por um bom soldado é imagem clássica para designar a vida do cristão. São Paulo utiliza-a mais de uma vez, especialmente no texto dirigido a Timóteo: “Toma a tua parte de sofrimento, como bom soldado de Cristo Jesus” (2Tm 2,3; cf. 2Cor 6,7; 10,3; Rm 6,13; 13,12; Ef 6, 11-18…). O soldado é um homem forte e enérgico; sabe aturar firme sem fazer alarde, mas no silêncio heroico. Ora, se o cristão é o soldado de Cristo, dir-lhe-á São Paulo que deve ter a capacidade de aguentar e desapegar-se que caracteriza todo bom soldado. É interessante notar que a imagem da militância se aplica também à mulher chamada por Deus à fé e a fidelidade; sim, a mãe dos mártires Macabeus, conforme os apócrifos do Antigo Testamento, é tida como “miliciana de Deus, mais viril ou mais forte do que o homem” (cf. 4Mc 15,30; 16,14).
E para que tanto heroísmo? – Nas epístolas paulinas os termos militares significam não o afã de conquistar violentamente, mas, sim, o de servir…
Continua o Apóstolo a desenvolver sua imagem quando recorda que a vida militar exige desapego de tudo o que lhe seja estranho: “Ninguém, arrolando-se no exército, se deixa envolver por questões da vida civil, se quer dar satisfação àquele que o arregimentou” (2Tm 2,4); a missão do soldado exige dedicação total e exclusiva. Assim também há de ser o cristão; desempenhe a missão que Deus lhe confiou, no mundo civil ou na Igreja, sem se imiscuir em tarefas ou atitudes incoerentes ou, mesmo, sem se dispersar indevidamente. Na verdade, ele milita não em favor de uma meta perecível, mas em demanda de uma coroa imortal, que muito mais energia exige do que qualquer outro objetivo (cf. 1Cor 9,24-27). – As imagens se associam na mente do Apostolo, que acrescenta: “Do mesmo modo um atleta não recebe a coroa se não lutou segundo as regras” (2Tm 2,5). Consequentemente, o atleta-soldado de Cristo deverá seguir a lei do Senhor Jesus, que o convocou para participar dos seus sofrimentos ou da sua Paixão; não poderá ser coroado aquele que se furte ao sacrifício, escolhendo os páreos mais fáceis e menosprezando os demais, ou levando vida destoante da mensagem que o próprio atleta de Cristo deve apregoar a seus irmãos.
São estas algumas ideias que podem ajudar os cristãos a viver mais consciente e frutuosamente o santo tempo da Quaresma… Com a graça de Deus!
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 309, Fev/1988.