As alegrias do Natal prolongam-se até o começo de janeiro; aos 25/12 nasce uma criança, 01/01 seguinte nasce um novo ano. A novidade do ambiente contribui para renovar o homem que aí vive. Cria-se uma expectativa de melhores tempos ou a da realização de um sonho.
Como quer que seja, é certo que percorreremos os marcos principais de cada mês do ano: aniversários, comemorações, datas religiosas; mas devemos olhar para tudo isso com olhar mais profundo, como quem percorre uma espiral cônica, com a ponta voltada para baixo e a boca aberta para o alto; a caminhada passa sempre pelos mesmos pontos, mas de cada vez numa perspectiva mais profunda, mais madura; serão e não serão a mesma coisa, pois um rígido imperativo rege nossa vida: é preciso crescer interiormente como o número de anos cresce exteriormente. Será preciso viver mais intensamente ou menos superficialmente cada um de nossos eventos, como se cada qual deles fosse o único o último evento de nossa vida,… único ou último que mobilizam todas as nossas energias para que sejam belos e dignos.
No começo de cada ano as pessoas costumam desejar umas às outras saúde, felicidade, êxito nos seus empreendimentos… São bens válidos, mas incapazes de nos satisfazer plenamente. Por que não desejar a Fonte de todos os bens, que é o Infinito, o Absoluto ou o próprio Deus? Quem nô-lo recomenda é Santo Agostinho († 430).
“Deus diz-te: pede o que quiseres. Que vais pedir-lhe?… Se tens alma de proprietário, deseja a terra inteira a fim de que todos os que aí vierem a nascer sejam teus colonos e teus escravos. Mas que terás quando tiveres a terra inteira? Alarga ainda mais o teu desejo e estende-o até o céu. Não encontrarás nada de mais precioso, nada de mais belo do que aquele que fez todas as coisas. É Ele que deves pedir. Nele e por Ele terás igualmente o que Ele fez.
Tudo é precioso, tudo é belo; mas quem é mais belo do que Ele? Tudo está cheio de força, mas quem é mais forte do que Ele? Nada mais quer do que dar-se.
Se encontrares algo melhor do que Ele, pede-lho. Se pedires uma coisa diferente dele, tu O injuriarás e prejudicarás a ti mesmo, porque Lhe pedes a sua obra, quando Ele, o Criador, quer dar-se a Si próprio… Possua-te Ele para que a Ele possuas. Serás a sua propriedade, serás a sua casa. Ele possui para enriquecer, e para enriquecer é possuído” (In Ps. 34).
Talvez poucos fiéis pensem em pedir mais do que saúde e o necessário para ser felizes neste mundo. Ora o Senhor mesmo nos exorta a ser mais ousados; peçamos o Infinito ou o próprio Deus, que nos criou para usufruirmos da sua bem-aventurança. Eis o que mais devemos pedir: a intimidade com Deus e o encontro final com Ele no face-a-face da eternidade!
É uma fecunda preparação desse face-a-face que desejamos a todos os nossos amigos internautas para o ano de 2009!
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº547, Janeiro/2008