“Com amor eterno eu te amei” é declaração que algumas vezes ocorre nas Escrituras: Dt 4,37; 10,15; Jr 31,3; Sf 3,17; Ml 1,2. – “Eterno” quer dizer “sem começo e sem fim, indefectível, porque os dons de chamado de Deus são sem arrependimento” (Rm 1,29) discover here. Tal afirmação ocorre não raro quando o Senhor quer consolar seu povo depois de uma tribulação devida aos pecados de Israel.
O amor de Deus é comparável ao do esposo para a esposa e vice-versa (cf. Is 62,1-4; Jr 2,2; 31,21; Ez 16,8.60). Também é figurado pelo amor de pai a seus filhos (cf. Is 1,2; 49,14.16; Jr 31,20; Os 2,25; 11,15).
Ao falar de Deus Amor, tocamos o âmago da mensagem bíblica, única entre as mensagens religiosas da humanidade; requer a coragem de professar que Deus primeiro nos amou, e nos amou quando éramos ingratos e rebeldes. Platão julgava que a Divindade nem sequer respondia ao amor do homem, porque ela nada teria a ganhar com isso; portanto, se houve alguma atitude de amor para com a Divindade, nunca houve a recíproca segundo o mesmo. Ora foi precisamente sobre este pano de fundo que ressoou a pregação evangélica; esta só pode ter tido origem no próprio Deus, que assim se revela, e não na mente do homem, por mais religioso que fosse. A singularidade do Cristianismo está nesta afirmação de que Deus é o primeiro a nos amar.
Mas é também precisamente isto que deixa muitas pessoas perplexas e descrentes hoje em dia, pois não vêem como conciliar amor de Deus e existência de tantos males e sofrimentos sobre a terra.
Para responder ao problema, voltamos a observar que Deus tem amor de pai ou mesmo de mãe. Ora qual é o bom pai que não educa seus filhos, procurando harmonizar seus afetos, até mesmo com punições e provações, se necessário? Por ocasião do exílio na Babilônia (587-538) o Senhor diz: “Como poderia eu abandonar-te, ó Efraim, entregar-te, ó Israel?… Meu coração se contorce dentro de mim, minhas entranhas comovem-se; não executarei o ardor de minha ira, não tornarei a destruir Efraim, porque eu sou Deus e não um homem, eu sou santo no meio de ti, não retornarei com furor” (Os 11,8s).
O filho amado é advertido, admoestado pelo Pai e, se oportuno, punido pelo Senhor. Essas punições são obras de amor. “Eu sou Deus, e não homem”. O amor do homem pode enganar-se, cedendo a paixões obcecadas. O amor divino não o pode. Um Deus que se engane ou seja injusto, não é divino. Na verdade, se alguém julga ter motivos para criticar a Deus, está criticando uma caricatura, não porém o verdadeiro Deus. Este não dá sempre a seus filhos o que pedem, para que dilatem seus corações e desejem possuir o próprio Deus, o Bem Infinito e não os bens finitos.
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 550, Abril/2008.