Estas palavras, extraídas da epístola aos hebreus, referem-se ao Patriarca Abraão: residiu como estrangeiro na Terra Prometida, assim com Isaque e Jacó; “pois esperava a cidade que tem fundamentos; cujo arquiteto e construtor é o próprio Deus” (Hb 11,9-11).
Esta atitude é prototípica e modelar para todo cristão. Este tem sido dito “peregrino do Absoluto” (Léon Bloy), alguém que procura o Infinito ou o Absoluto. Na verdade, triste é o caso de quem se dá por satisfeito com os bens que recebe nesta vida; são todos ameaçados pela deterioração e pela morte; são todos exíguos demais para preencher a capacidade do homem. Daí um natural anseio por algo que os olhos não vêem, mas que deve existir no fim da caminhada terrestre.
A rotina de cada dia, com suas múltiplas exigências de dever cumprido sem cessar, muito contribui para amortecer no cristão a recordação e a santa demanda do Absoluto; este parece muito pálido e pouco atraente frente ao colorido e ao sonoro das coisas temporais. Mas é preciso que regularmente o cristão medite nessa sua capacidade de Infinito (o tempo de Páscoa é muito convidativo para isto). Ai daquele que, como o ricaço do Evangelho tem boa mansão, boa mesa, boas vestes e se julga assim realizado a ponto de ignorar o pobre Lázaro deixado à porta de sua casa, sofrendo fome e sede; tal “felizardo” morrerá sem fome dos valores transcendentais, passando por tremenda decepção (cf. Lc 16,19-31). É preciso que com grande fome e sede do Eterno respondamos ao chamado do Pai no último dia de nossa caminhada terrestre.
Estas considerações nada têm de alienante, como se diz, pois não dispensam o cristão de seus deveres profissionais; justamente por trazer o nome de Cristo, o cristão há de ser um ótimo profissional, mas profissional que sabe estar a caminho daquilo que “o olho não viu, o ouvido jamais ouviu e o coração jamais percebeu” (cf. 1Cor 2,9). Conclui Santo Agostinho:
“Então será a alegria plena e perfeita, a felicidade perpétua; quando já não tivermos por alimento o leite da esperança, mas o alimento sólido da realidade. Também agora, antes de chegarmos a essa Ventura ou antes que essa Ventura chegue a nós, alegremo-nos no Senhor porque não é pequena a alegria da esperança que nos garante a futura realidade”(sermão 21,3).
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 551, Maio/2008.