O mês de abril é o mês da Páscoa. – E Páscoa é o duelo da Vida (de Deus) com a morte (do homem), donde sai vitoriosa a vida, recriando o homem; Cristo aparece como o novo Adão, Pai de nova humanidade. Isto vem expresso na vigília de Páscoa, em que o círio é ornamentado pelas letras Alfa e Ômega, que designam o Cristo vivo “ontem, hoje e pelos séculos (Hb 13,8), Princípio e Fim, Alfa e Ômega. A Ele pertencem o tempo e a eternidade”. Isto significa duas grandes verdades:
– Jesus Cristo é o Rei dos séculos; é o Senhor dos tempos, que Ele resgatou com o seu sangue. O Apocalipse O apresenta a declarar: “Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da Morte e o Hades” (Ap 1,17s). Por isto Ele traz mas mãos o livro da história da humanidade (cf. Ap 5,1-15); tudo o que acontece sobre a terra, está escrito nesse livro. Nada escapa aos desígnios do Rei dos reis e do Senhor dos senhores (cf. Ap 19,16).
– O tempo dos homens, sujeito a limitações, está relacionado com a eternidade. Recebeu em seu bojo a presença do Eterno, que o vai transfigurando ou vai conferindo ao tempo um valor de eternidade. A vivência de cada homem no tempo dará configuração à sua eternidade. Cada qual colherá o que tiver semeado e na proporção de quanto tiver semeado (cf. 2Cor 9,6). Dizia o Papa João Paulo II: “A existência humana, apesar de sujeita ao tempo, é colocada por Cristo no horizonte da imortalidade”. E cita Santo Irineu: “Ele se fez homem entre os homens para reunir o fim com o princípio, isto é, o homem com Deus” (Adv Haer. 4, 10, 4). Cf. Carta aos Anciãos nº 2.
O tempo e a eternidade, a mortalidade e a imortalidade se tocam no homem peregrino, fazendo dele algo de ambíguo. Essa ambiguidade, que assusta, é também algo de muito consolador, pois confere a certeza de que os aspectos negativos não definem o cotidiano do homem. Por trás do doloroso e penoso há a glória e a vitória finais. Se o ser humano é um vaso de argila portador de valioso tesouro (cf. 2Cor 4,7), convém ao cristão considerar mais e mais o tesouro da vida eterna que nele se encontra, deixando que sua vida corporal seja transparente para esse imenso valor.
A Escritura se compraz em realçar o caráter contrastante da vida com Deus mediante outra imagem muito significativa: “Em verdade, em verdade vos digo: chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará… Quando a mulher está para dar à luz, ela se entristece, porque a sua hora chegou; quando, porém, dá à luz a criança, ela já não se lembra dos sofrimentos pela alegria de ter vindo ao mundo um homem. Também vós agora estais tristes; mas eu vos verei de novo e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria” (Jo 16,21s). A vida presente é comparada a um parto doloroso, mas está prenhe da alegria de formar o Cristo Jesus no cristão. O Senhor, que morre para vencer a morte e ressuscita para renovar a vida, é o grande referencial do cristão, que, unido a Ele, dirá: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13).
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 455, Abril/2000.