Em 1Tm 2,15 São Paulo afirma que a mulher é salva pela teknogonia. Esta palavra grega pode traduzir-se por geração de(os) filhos ou, simplesmente, maternidade. Neste caso, o Apóstolo tem em vista a maternidade como colaboração com a obra do Criador: é, de certo modo, um sacerdócio, visto que toda mãe é chamada a transmitir não somente a vida corporal e a educação respectiva, mas também a doutrina da fé, que estrutura o cristão. Ser mãe era uma das aspirações mais profundas da mulher judia; é também grande dignidade da mulher moderna, dada a importância que uma boa mãe tem na sociedade.
Eis, porém, que o vocábulo grego pode ser traduzido também por geração do filho, designando então um filho definido. Este seria o Filho de Deus feito homem no seio de Maria Virgem. Em tal caso, São Paulo estaria dizendo que a mulher é honrada e glorificada pela maternidade de Maria Virgem, que deu à luz o Filho por excelência ou o próprio Salvador. Tal interpretação não deixa de ter sua verossimilhança: Maria seria apontada como a mulher por excelência, cujo parto proporcionou ao mundo a fonte da Vida plena. Vem a propósito recordá-lo no mês de maio, especialmente dedicado pela piedade católica a Maria SS.; para ela os cristãos, configurados a Cristo, lançam seu olhar filial e confiante, pedindo-lhe as valiosas preces, a fim de que “possam fazer tudo o que Jesus mandou” (Jo 2,5).
Os dizeres de São Paulo interpelam também as outras mães, que têm seu dia oficial no segundo domingo de maio. O Apóstolo insinua que toda mãe cristã há de se espelhar na Mãe Santíssima e procurar fazer de seu filho um outro Jesus; é certamente esta uma das mais belas tarefas que a mulher possa desempenhar, ciente de que os ensinamentos entregues pela mãe às suas crianças são sementes que não morrem, mas marcam profundamente a personalidade dos filhos. Os sacrifícios que toda mãe deve praticar para ser fiel à sua vocação, vem a ser, de resto, imagem muito frequente, na Bíblia, da tarefa de formar o Cristo nos corações dos cristãos. O próprio Jesus se refere às dores do parto como figura do que acontece aos cristãos que querem formar o Cristão em si, em meio às contradições do mundo:
“Chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará. Vós vos entristecereis, mas a vossa tristeza se transformará em alegria. Quando a mulher está para dar à luz, entristece-se porque a sua hora chegou; quando, porém, dá à luz a criança, ela já não se lembra dos sofrimentos, pela alegria de ter vindo ao mundo um homem” (Jo 16,20s).
É com prazer que o cristão recorda estas passagens bíblicas no mês de maio, comemorando a Mãe SSma. e as mães que, à semelhança de Maria, são colaboradoras de Deus.
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 360, Maio/1992.