No tempo de Quaresma e Páscoa, a mente do cristão se volta para o mistério da dor… A solução para tal problema tem sido procurada por filósofos e religiosos, que indagam como conciliar o sofrimento com a bondade do Criador, que é Pai?
A sã razão e a fé respondem que o mal não pode ter sua origem em Deus – por definição, Ser Perfeitíssimo –, mas a tem na criatura, que, livre como é, pode agir defeituosamente. Todavia acrescenta a fé que Deus nunca permitiria o mal se não tivesse recursos para tirar do mal bens ainda maiores (S. Agostinho); Deus não é indiferente ao mal que o homem comete ou padece. Por isto quis assumir a sorte do homem e, percorrendo-a até a morte de cruz, deu-lhe um desembocar inédito: a ressurreição ou a vitória sobre a morte. Atualmente o caminho da cruz continua a ser caminho do homem, mas o sinal negativo da caminhada foi mudado em positivo: a cruz, patíbulo do escravo, tornou-se a árvore da vida. Em consequência, o Cristo no Apocalipse aparece como “Aquele que conheceu a morte, mas eis que vive pelos séculos dos séculos, e tem as chaves da morte e da região dos mortos” (Ap 1,18) best diet pills.
Ao cristão compete assumir a sua cruz em união com o Senhor Jesus. Não é tão difícil fazê-lo no início da vida espiritual, quando há entusiasmo “noviço”. Mas difícil é fazê-lo anos a fio, sem que se possa prever o respectivo fim. A corrida do atleta cristão não é corrida de salto, que se vence em segundos, mas é corrida de fôlego,… corrida que, quanto mais duradoura, tanto mais gloriosa é; trata-se de dar um passo, mais um passo, ainda mais um passo…, sem que se tenha a certeza humana de que haverá força para o passo seguinte. Tal é o heroísmo cristão. Enquanto o discípulo de Cristo assim peleja, pode acometê-lo a tentação do desânimo: largue os seus propósitos utópicos, jogando fora todos os esforços realizados no decorrer de 80 ou 90% da caminhada! Esta tentação é conhecida no próprio livro do Apocalipse, onde se lê: “Guarda o que tens para que ninguém arrebate a tua coroa” (Ap 3,11). Isto quer dizer: “O que fizeste até agora é para ti penhor de inestimável coroa de glória; não permitas que na reta final a pusilanimidade te prostre por terra. Crê naquele que te chamou… Crê e não serás frustrado!”.
Ora é tal fé que Quaresma e Páscoa pretendem corroborar em todo cristão!
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 267, Mar/1983.