O mês de Abril começa com a celebração da Semana mais santa do ano: 01 a 08/04… É semana de paradoxo, pois nela se celebram a morte e a ressureição de Jesus ou a morte que não foi morte, mas passagem para a vida. – Um texto da epístola aos Hebreus (5,7) é apto a explanar o mistério: o autor sagrado recorda a agonia de Jesus no Horto das Oliveiras, em meio a clamores e lágrimas e… ousa dizer que Jesus, tendo pedido ao Pai a isenção da morte de Cruz, foi atendido por causa da sua reverência.
É espontâneo perguntarmos: como foi atendido, se não foi poupado da crucifixão dolorosa? – A resposta é importante.
No Horto das Oliveiras, Jesus pediu que o cálice passasse sem que Ele o bebesse, mas acrescentou: “Faça-se, porém, a Tua vontade, ó Pai, e não a minha” (Lc 22,42). Tal é, aliás, o modelo da oração de todo cristão: “não sabemos o que pedir como convém” (Rm 8,26); podemos, porém, sugerir ao Pai tudo o que nos pareça útil e conveniente, mas façamo-lo sempre com Jesus e como Jesus, subordinando nossos anseios aos santos desígnios do Pai (é isto que se chama “pedir em nome de Jesus”; cf. Jo 16,23). Uma tal oração nunca é perdida; será sempre atendida, como foi atendida a de Jesus: se Ele não recebeu a dispensa da morte de Cruz, mas a atravessou, ganhou mais do que a graça de morrer sem violência; sim, através de sua morte na Cruz, Jesus venceu a morte, ressuscitando e tornando-se o Senhor dos vivos e dos mortos. É Ele quem afirma no Apocalipse: “Eu sou o Primeiro e o Último, o Vivente; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da Morte e da região dos mortos” (Ap 1,18).
O Apocalipse apresenta o Cordeiro tendo nas mãos o livro dos desígnios de Deus sobre a humanidade; é o Senhor da história, mas traz as chagas da sua Paixão; está de pé como que imolado (cf. Ap 5,6). Era tal dignidade que o Pai havia reservado para Jesus como Homem; se não lhe deu aquilo que o bom senso humano sugeria, deu-lhe algo de muito mais valioso.
Considerando tal modelo o cristão se sente reconfortado. Não lhe faltam ocasiões de padecer como Jesus; Ele quis descer até o extremo das nossas dores e pedir o que qualquer criatura humana, na angústia, pediria. Em tais circunstâncias, o cristão rezará com Jesus. E esteja certo de que a sua prece não será perdida, pois, se o Pai não lhe conceder o que sugere, há de lhe dar muito mais ainda, ou seja, a participação no reino de Cristo, que esteve morto, mas vive pelos séculos!
É a oração com Cristo, filial e perseverante, que transfigura a Cruz e a torna Árvore da vida.
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 382, Mar/1994.