Várias são as propostas filosófico-religiosas que interpelam o homem hoje: as de origem cristã, as espíritas, as hinduístas, as japonesas, as esotéricas… Isto torna muitas pessoas relativistas no tocante à verdade religiosa: por que crer nesta mensagem mais do que naquela? Tal ceticismo é favorecido pela aversão à Metafísica e a tendência a preferir os dados concretos tão apregoadas pela filosofia existencialista. Em consequência, diz-se frequentemente: “É preciso crer em alguma coisa, qualquer que ela seja! Não importa a mensagem!”
Esta atitude leva-nos a refletir.
É certo que a fé não é uma atitude cega, meramente emotiva, “tapa-buraco” ou “muleta” de quem é fraco. Ela se volta para a Verdade revelada por Deus e oferecida à inteligência do homem. Crer é ato do ser inteligente, pois Deus interpela o que há de mais nobre no homem ou a sua racionalidade. Por conseguinte, Fé, Verdade e Inteligência estão intimamente relacionadas entre si, não no sentido de que o intelecto possa provar as verdades da fé, mas no sentido de que a razão pode examinar as diversas proposições religiosas que se lhe oferecem, testando as credenciais de cada uma, a fim de aderir àquela que satisfaz às exigências da crítica inteligente. É a inteligência, e não a emoção, que deve inspirar a opção religiosa do homem.
Acontece, porém, que muitos não se sentem dispostos a mover o raciocínio para chegar à fé; não dão grande importância à Verdade religiosa. Todavia algo impressiona sempre o homem de hoje: o testemunho de vida de quem professa uma mensagem; este fala mais do que a palavra oral ou a prédica, em muitos e muitos casos. Daí o especial valor da autêntica vivência cristã por parte daqueles que Cristo chamou à sua Igreja. Os homens de hoje querem ver fatos concretos,… fatos que mereçam atenção. Ora nada de mais chamativo do que um testemunho de vida corajoso, que fuja da mediocridade e esteja disposto a todo sacrifício para não trair seu ideal. Nesta época de hedonismo e consumismo, torna-se sinal eloquente o cristão que creia coerentemente, sem recear zombarias ou humilhações…, o cristão que mostre que Deus é Vida, e não letra estéril…, o cristão que traduza a Utopia ou o Sonho (as Bem-aventuranças) do Cristianismo em realidade concreta, virilmente sustentada através das contradições que a cercam. – Este se torna a Palavra mais significativa; desperta os homens da mediocridade e do torpor hedonista para a indagação do Mistério que assim transfigura a vida dos homens. – Queira Deus multiplicar tais arautos da mensagem entregue por Cristo a Pedro e à Igreja, para que o mundo creia… (cf. Jo 17,21)!
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 302, Jul/1987.