Estas palavras do filósofo francês encerram profunda verdade, que é, ao mesmo tempo, sorridente e desconcertante.
Sorridente… Pois nos lembram que o não morrer ou viver para sempre é a grande aspiração de todo ser humano. É em função da vida que o homem descobre outros valores, como a verdade, o bem, a felicidade… Por conseguinte, o não morrer é o maior presente que alguém possa dar à pessoa amada.
Desconcertante… Porque se pode perguntar: que criatura é capaz de dar tal presente? – Nenhuma. A vida é algo misterioso, cuja origem escapa ao homem e cuja posse é fugaz… Portanto nenhuma criatura ama a ponto de garantir a imortalidade. A esta altura os nossos olhos são espontaneamente impelidos a voltar-se para o Criador. A fé nos diz que Ele é o Primeiro Amor, Aquele que ama gratuitamente (cf. 1Jo 3,19). E precisamente é Ele quem garante ao homem a vida plena ou a vitória sobre a morte. Diz o livro da Sabedoria: “Deus não fez a morte nem se compraz com a morte dos viventes… Ele tudo criou para que subsista” (Sb 1,13s); ou ainda: “Deus criou o homem para a imortalidade e o fez imagem de sua própria natureza; foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo” (Sb 2,23s).
Estas considerações vêm muito a propósito no mês de novembro, que se abre com uma reflexão sobre o além: a 1º/11 celebram-se todos os Santos; a 2/11 comemoram-se os fiéis defuntos. Todos são criaturas de Deus, sobre as quais pairam um ato de amor divino; na origem de cada criatura há o amor de Deus, que a concebeu para a fazer consorte de sua vida. Não existe outra razão que explique a existência de cada ser humano. A morte, como os homens a experimentam, resulta de uma desordem introduzida pelo pecado no plano de Criador, …desordem, porém, que foi resgatada pela própria morte e a ressurreição de Cristo, o segundo Adão (cf. Rm 5,12-17). Em virtude da vitória de Jesus sobre o pecado e a morte, o cristão sabe que ele passa pela morte, a fim de despojar-se do seu frágil corpo de argila e revestir-se de corpo glorioso configurado ao Corpo de Cristo ressuscitado (cf. 2Cor 5,1-5).
Portanto, o que importa ao cristão é corresponder ao Primeiro Amor, conduzindo-se de tal modo que o Artífice Divino possa executar seu desígnio sobre a criatura. A tristeza e o pranto são assim superados, pois o cristão sabe que existe realmente Aquele que ama e que, por certo, pode dizer: “Não morrerás!” ao homem que deseje a vida e fuja de toda trilha do pecado e da morte.
Possa o Primeiro Amor imprimir a convicção da fé na mente de todos aqueles que se interessam por saber por que existem e para que existem!
Pe. Estêvão Bettencourt, OSB
Texto publicado na Revista Pergunte e Responderemos nº 378, Novembro/1993.