1ª Leitura: At 10,25-26.34-35.44-48
Sl 97
2ª Leitura: 1 Jo 4,7-10
Evangelho: Jo 15,9-17
“Fazer o que Jesus manda”, “obedecer a sua Palavra”, algumas vezes nos parece uma tarefa demasiado dura. Muitas vezes não queremos ouvir a Palavra, relutamos em segui-la. Isso acontece porque estamos imersos no pecado, que é a ausência de amor. Precisamos deixar que o Espírito Santo nos mergulhe no amor trinitário. Por estarmos imersos no pecado, cada vez que nos confrontamos com a Palavra parece que somos feridos por ela, golpeados… mas não é uma “ferida de morte”, nem um golpe que nos derruba. Paradoxalmente, a Palavra nos fere para nos curar e nos golpeia para nos reerguer, porque a promessa para aqueles que guardam a Palavra é a promessa de uma alegria plena, a alegria do Cristo. Assim como o Cristo se regozija em guardar os mandamentos do Pai, assim também nós na medida em que nos identificamos com Cristo nos regozijaremos por guardar a Palavra, como alguém que andava no escuro e agora, ao acender a luz, esta fere um pouco seus olhos, mas depois a alegria invade o coração, porque você começa a perceber cores, matizes, formas, você a ver o que antes não via.
A Palavra de hoje nos mostra a unidade que há entre Deus e nós. O Pai ama o Filho, se esvazia para que Ele exista. O Filho, repleto do amor do Pai, o distribui aos homens, encarnando-se e realizando a sua Páscoa; e o mesmo Filho nos escolhe, para que assim como Ele é o sinal visível do amor do Pai, nós sejamos sinais vivos (sacramentos) do seu amor no meio da humanidade. O Pai, pelo Filho, no Espírito Santo, santifica a Igreja (com seu amor) e, por ela, o mundo, nos diz Puebla 917. Santificamos o mundo sendo a manifestação viva do amor de Cristo.
Quem vive assim pode pedir qualquer coisa em nome de Cristo que o Pai lhe concederá. Mas, se essa palavra é verdadeira – e nós assim cremos que ela seja, de fato, verdadeira – porque pedimos ao Pai tantas coisas e estas não se realizam? Pedimos curas, emprego… Precisamos entender o que significa pedir “em nome” de Cristo. Não se trata de usar o nome de Cristo como uma palavra mágica, que nos fará arrancar do Pai o que queremos. O Nome, no contexto semita, significa a própria pessoa. Pedir “em nome” de Cristo significa primeiro tornar-se como Cristo, através da meditação da Palavra e dos sacramentos. Para pedir em nome de Cristo, ou seja, para pedir como Ele pediria, primeiro eu preciso me configurar a Ele. Por isso, a primeira oração que devemos aprender não é a petição. Por isso esse evangelho não diz que a primeira coisa é pedir. Precisamos primeiro permanecer em Cristo, permanecer em seus mandamentos, identificarmo-nos com Ele, vivermos em unidade com Ele. Quando assim for, o Pai reconhecerá nos nossos pedidos a voz do Filho e Ele nos concederá tudo o que pedirmos.
Nossos pedidos não são atendidos porque pedimos mal, para satisfazer desejos de vingança, para a própria ganância, para imediatismos, para ter o máximo de prazer nesta vida. O Pai não reconhece na nossa voz a voz do seu Filho. Cristo não fez a opção pelo máximo de prazer nesta vida. Por isso, quando nosso pedido reflete a busca do máximo de prazer nesta vida esse não é um pedido feito em nome de Jesus, porque Ele jamais pediu isso. Ao contrário, mesmo diante do sofrimento iminente Ele disse: faça-se a tua vontade! Precisamos aprender a pedir como Cristo, a unir a nossa vontade com a do Pai e, assim, tudo o que pedirmos Ele nos concederá.
Cristo nos ordena: amai-vos uns aos outros! A característica que marca o amor é a gratuidade. O amor não tem motivos para amar. Deus não tem porquê nos amar, mas Ele nos ama! Nós, que recebemos de Deus esse amor devemos dá-lo também aos outros. Não é o nosso amor que estamos levando, mas o de Deus. Podemos até não ter um amor nosso para dar, mas devemos sempre levar o amor de Deus que recebemos em Cristo. Aos poucos, o nosso coração vai se tornando como o d’Ele e tudo o que é d’Ele passa para nós e começamos também a amar como Ele ama. Deus é amor. Se ousamos dizer que o conhecemos, devemos provar com a vida que, de fato, o conhecemos, amando-nos uns aos outros.
Não nos esqueçamos hoje de rezar por todas as mães, as vivas e as que já se encontram junto do Senhor. Elas foram na vida de muitos de nós um sinal vivo desse amor de doação, que é o amor que o Pai tem por nós.