1ª Leitura: Is 25,6-10a
Sl 22
2ª Leitura: Fl 4,12-14.19-20
Evangelho: Mt 22,1-14
O evangelho deste domingo encerra o conjunto das três parábolas que encontramos nos caps. 21-22 de Mateus e que Jesus dirige aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo (cf. Mt 21,23) que lhe interrogam a respeito da sua autoridade. As três parábolas – a dos dois filhos (Mt 21,28-32); a dos vinhateiros homicidas (Mt 21,33-46) e a que ouvimos neste domingo, a do banquete nupcial (Mt 22,1-14) – têm o mesmo desfecho: o Reino dos Céus, ao qual foi convidado em primeiro lugar o povo da primeira aliança, os judeus, será entregue, agora, a todo aquele que aderir a Cristo pela fé, acolhendo seu convite e tomando sobre si o jugo suave do Evangelho.
O texto de Mt 22,1-14 está em consonância com a primeira leitura: Is 25,6-10a, que é um texto escatológico, contextualizado no grande conjunto formado pelos caps. 24-27 do livro de Isaías[1], onde o profeta anuncia o juízo de Deus e os novos tempos que serão inaugurados. Nestes novos tempos o Senhor reunirá sobre “esta montanha”, ou seja, em Jerusalém, “todos os povos” e ali oferecerá um grande banquete. A comensalidade indica a comunhão de vida que deverá unir todos estes povos, outrora divididos, mas agora unidos pelo Senhor. O profeta segue enumerando quais serão as demais ações divinas: Ele removerá a cadeia que ligava os povos; eliminará a morte; enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo na terra. Esse conjunto de ações divinas produzirá no povo a fé, eles reconhecerão que Deus atua em seu favor, e dirão: Este é o nosso Deus, esperamos nele, até que nos salvou… (Is 25,9).
Uma imagem de banquete também nos é apresentada pelo Salmo 22(23),5: Preparais à minha frente uma mesa, bem à vista do inimigo, e com óleo vós ungis minha cabeça; o meu cálice transborda.
Tanto a primeira leitura, quando o Salmo responsorial, nos apresentam, assim, a imagem do banquete como sinal da comunhão com Deus, a mesma imagem que encontramos no Evangelho. Na parábola deste domingo, onde Jesus quer mostrar como é o Reino dos Céus, o rei prepara a “festa de casamento” de seu Filho. Os vv. 1-10 são um resumo da história da salvação, tal como a parábola dos vinhateiros homicidas que ouvimos no último domingo: o rei é Deus Pai, que preparou as núpcias do seu Filho, as núpcias do Cordeiro como diz Ap 19,7.9. Para estas núpcias foram convidados primeiro os membros do povo da primeira aliança, os judeus, aqueles a quem a Palavra de Deus se dirigiu em primeiro lugar. Diante de sua recusa, o Pai lhes enviou mais empregados. Podemos ver nesse envio dos empregados do rei, a atuação dos profetas. Ao chamar o povo à conversão, eles o chamavam a uma comunhão de vida com o próprio Deus. A recusa a esse convite se expressa de modo concreto na recusa a reconhecer no Cristo o Messias esperado. Não reconhecendo o Cristo como Salvador, eles não entram nas núpcias, na festa que o Pai preparou com tanto esmero.
Os vv. 8-10 concluem a primeira parte da parábola. A parábola dos vinhateiros homicidas foi concluída com a afirmação de Jesus: …o Reino de Deus vos será tirado e entregue a um povo que produza frutos (Mt 21,43), indicando com isso que o projeto do Pai se realizava agora em plenitude, ou seja, o Reino está aberto a todo aquele que quiser aderir a Cristo pela fé, produzindo frutos. A parábola de hoje termina dizendo a mesma coisa de uma outra forma. O convite feito a todos os que estavam pelas encruzilhadas, bons e maus, que acabaram por lotar a sala das núpcias é anúncio do tempo novo, também predito pelo profeta Isaías, onde Deus vai reunir todos os homens, bons e maus, judeus e pagãos, chamando-os à salvação. Todos os que vierem às núpcias, ou seja, todos os que acolherem a boa nova do Evangelho, serão admitidos à comunhão com o Senhor e possuem um lugar em seu Reino.
O v. 14 encerra toda a parábola: Muitos são os chamados, poucos os escolhidos. Não que Deus queira escolher poucos, ou que o Reino seja para uma elite, mas de fato, nem todos acolhem o chamado divino. Deus não seja de chamar para o seu Reino, mas muitos se fecham em seus afazeres, recusam-se à acolher sua Palavra e, por isso, se excluem do banquete nupcial.
A Eucaristia é este nosso banquete. Ela realiza a profecia de Isaías em nossa vida. O Salmo 22 acontece para nós cada domingo, porque Deus nos unge com seu Espírito e prepara para nós, diante do inimigo de nossas almas, diante daquele que nos acusa, essa mesa de irmãos, onde nos nutrimos quer da Palavra, quer do Corpo e Sangue do Ressuscitado. Eis aqui, cada domingo, as núpcias do Filho de Deus às quais todos somos chamados. Esta mesa antecipa as núpcias eternas: a mesa do Reino, aquela que o Senhor prepara para nós, no céu.
Que possamos ouvir sempre o convite daquele que não cessa de nos chamar a comunhão com Ele. Que não fechemos jamais nosso coração ao seu chamado de amor. Seja a assembleia dominical nosso gozo, nossa alegria, da qual nunca nos excluímos e na qual estamos sempre presentes, portando nossas vestes, porque fomos delas revestidos em nosso Batismo; vestes essas que não cansamos de lavar e lavar no Sangue do Cordeiro, que nos purifica de nossos pecados para que possamos viver em plena comunhão de vida com Ele.
[1] Esse conjunto é equivocadamente chamado de Apocalipse de Isaías. Não se trata de textos apocalípticos, mas sim de textos escatológicos, que apresentam a palavra do profeta anunciando o juízo divino e a instauração de uma nova ordem. A apocalíptica é gênero literário muito específico, e só encontramos textos apocalípticos, no Antigo Testamento, dentro do livro de Daniel.