1ª Leitura: Is 22,19-23
Sl 137
2ª Leitura: Rm 1,33-36
Evangelho: Mt 16,13-20
Poderíamos começar a nossa reflexão de hoje, voltando o nosso olhar para a oração coleta desta Eucaristia: “Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias”. Nesta oração coleta, o sacerdote reúne todas as intenções que estão nos corações dos fiéis e as apresenta ao Pai, suplicando em seu favor e em favor do povo, todos os dons e graças que lhe são necessários.
Na oração, reconhecemos que Deus une os nossos corações “num só desejo”: o desejo de Deus, do infinito. A nós, que por esse comum desejo de Deus estamos unidos, o Senhor propõe duas atitudes e hoje nós suplicamos que elas se realizem na nossa vida: “dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis”.
“Amar o que ordenais” e “esperar o que prometeis”. Estas são duas atitudes fundamentais na vida do cristão. Primeiro, precisamos amar os mandamentos. O que o Senhor nos ordena fazer pela sua Palavra não é um peso. Os mandamentos não são um jugo pesado, ao contrário, eles são o “fardo leve” que Cristo nos propõe. Os mandamentos são leves, porque eles nos indicam o “caminho para a vida”.
Amando os mandamentos, devemos “esperar” o que Deus nos promete. O Senhor nos promete a vida eterna. Cada domingo é como que uma antecipação do céu, daquilo o que gozaremos na vida eterna. Em cada domingo entramos na Igreja, que é reflexo da Jerusalém do Alto. Em cada domingo nos reunimos em torno da mesa da Palavra e aqui Deus nos fala, como nos falará também face a face em seu Reino. O domingo, então, reaviva a nossa esperança naquilo o que o Senhor promete para nós: a vida eterna com Ele em seu Reino que não terá fim.
Reconhecendo que o mundo no qual vivemos é instável, devemos fixar o nosso coração naquilo o que é estável: em Deus e na sua Palavra que nos aponta o caminho da verdadeira alegria.
O Cristo é o único que corresponde à essa sede de infinito que o homem possui dentro de si. Só Ele tem “palavras de vida eterna”. Pedro reconheceu isso: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (cf. Jo 6,68). Pedro é iluminado pelo Espírito para dar a Cristo esta resposta. Ao semelhante ouvimos na perícope evangélica deste Domingo (Mt 16,13-20).
Cristo, doador da vida eterna, se coloca diante dos discípulos e interroga-os a respeito do que andam dizendo dele os homens. Os discípulos afirmam que a opinião da multidão é muito difusa. Para alguns, ele é Elias, para outros, João Batista e, para outros ainda, ele é algum dos profetas. Jesus lança então sua pergunta ao coração dos discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” É Pedro quem, representando os doze, toma a frente e responde com fé firme: “Tu és o Messias, o Filho do Deus Vivo.” Jesus reconhece a firmeza e a clareza da fé de Pedro e afirma que somente uma revelação do Pai poderia dar a conhecer tal realidade: Jesus é o Messias, o Filho do Deus Vivo. Não foi a carne e o sangue que revelaram isso a Pedro. Trata-se, antes, de uma intervenção do Pai que ilumina Pedro, para que Ele compreenda com clareza quem é o Cristo.
A partir de tal confissão de fé, Jesus dá a Pedro então um novo título, um novo nome: Pedro, Rocha, fundamento visível sobre o qual Cristo deseja edificar a sua Igreja. A Igreja de Cristo é edificada sobre Pedro, cuja confissão de fé se mostrou firme e clara. Pedro recebe o poder das chaves, ou seja, ele é colocado como o guarda da Igreja, como aquele que é o responsável pela Igreja de Cristo na terra. A primeira leitura, que nos fala da substituição de Sobna por Eliacim como guarda da casa real, nos mostra bem o que significava na Escritura do Antigo Testamento o “deter as chaves”. Significava ter plenos poderes sobre a casa. Cristo dá a Pedro e a seus sucessores, o poder das chaves, o governo da sua Igreja na terra, o poder de ligar e desligar, ou seja, o poder de introduzir ou de excluir da comunhão no Corpo de Cristo.
Cristo confirma o poder de Pedro na terra e no céu. Olhando o ministério de Pedro hoje, ainda confirmando a fé dos irmãos (cf. Lc 22,32), nós vemos como Deus é fiel às suas promessas e como Ele conserva a Igreja firme, ainda que no meio de tantas tempestades, a fim de que as portas do inferno não prevaleçam contra ela.
A pergunta de Cristo aos discípulos é dirigida também a nós: “E vós, quem dizes que eu sou?” Quem é Cristo para nós? Esta é uma pergunta que devemos nos fazer todos os dias. Cristo não é um mero milagreiro, nem um solucionador de problemas. Cristo não é um “espírito de luz”, somente. Cristo é o Messias, o Salvador, o filho do Deus Vivo, Deus com o Pai, Senhor da nossa vida. Precisamos, como Pedro, ter um encontro pessoal com Cristo, para que possamos também responder a essa pergunta que Cristo nos faz de maneira pessoal, tendo experimentado o seu amor e a sua presença poderosa na nossa vida. Dessa resposta, depende o nosso “ser cristão”.
Poderíamos concluir com a doxologia que Paulo inclui na sua carta aos Romanos: Tudo é dele, por ele e para ele. A ele, a glória pelos séculos (cf. Rm 11,36). Nossa vida nesse mundo deve ser uma epifania, uma manifestação visível dessa doxologia que o apóstolo nos apresenta. Que nossos atos, nossas palavras, nossos pensamentos, enfim, tudo o que somos e temos, seja para a glória do Senhor, para Ele que é o “Messias, o Filho do Deus Vivo!”