1ª Leitura: Zc 9,9-10
Sl 114
2ª Leitura: Rm 8,9.11-13
Evangelho: Mt 11,25-30
Na primeira leitura temos um oráculo messiânico. O povo de Israel, representado nas expressões “filha de Sião” e “filha de Jerusalém”, deve “exultar muito” e “gritar de júbilo”, porque o seu rei vem ao seu encontro. A respeito desse rei afirmam-se quatro coisas: ele é justo; ele salva; ele é humilde; ele monta um jumento. Embora, em tempos antigos, o jumento apareça na Escritura como a montaria dos grandes chefes (cf. 2Sm 16,2), no contexto de Zacarias, profeta do pós-exílio, a ideia de fundo parece ser outra. Este rei que virá é um rei pacífico, por isso ele não monta nos cavalos de guerra, mas sim num animal que parece contrapor-se à ideia da guerra. No versículo seguinte é afirmado que este rei que vem eliminará os “carros de Efraim” e os “cavalos de Jerusalém”: ele deve anunciar a “paz” às nações.
Em muitos momentos, os reis de Israel colocaram sua confiança em seguranças humanas. Confiaram nos carros, nos cavalos, nos seus arcos e exércitos. Agora o profeta convida o povo a olhar para uma outra perspectiva messiânica: a vinda de um rei pacífico. O povo deve alegrar-se muito, encher-se de júbilo, porque o rei que vem não é altivo, mas sim “humilde, pobre”, o que vem indicado pelo termo ’anî, presente em Zc 9,9. Se ele é “humilde, pobre”, olhará também para os pobres do povo, os preferidos de Deus, aqueles que sofrem todo tipo de escárnio e opressão. Ele opera a justiça, ele salva, mas não com a força que vem dos homens, mas sim pelo poder de Deus (cf. Zc 9,16).
Esse “Rei pacífico”, o Messias justo, salvador e humilde é o Cristo. Tal profecia aparece plenamente realizada na entrada de Jesus em Jerusalém (cf. Mt 21,1-11). Ela se conecta, contudo, também à perícope evangélica deste domingo. Nós a poderíamos dividir em duas partes: nos vv. 25-27 temos a grande “berakah” de Jesus, sua “eucaristia”, ou seja, sua “ação de graças” ao Pai que revelou o mistério do Reino aos “pequeninos”. Mateus utiliza o verbo exomologeo, que significa “confessar”, mas também “louvar, bendizer”. Jesus confessa, proclama o louvor do Pai, e o motivo do louvor é o seu amor infinito, que escolhe sempre os menores, os humildes, os pobres, numa palavra, os “pequeninos”. É a estes que o Pai revela o mistério do seu Reino.
Nos vv. 26-27 Jesus apresenta sua especial relação com o Pai: este lhe entregou tudo. E não há outro caminho para conhecer o Pai e seu plano de amor senão o próprio Filho. Ele, o Cristo, é o caminho: ele é o revelador do Pai. Por isso, noutra passagem do Evangelho ele vai dizer: Quem me vê, vê o Pai (cf. Jo 14,8-9).
É a partir do v. 28 que este trecho do evangelho se une à primeira leitura. Jesus, o verdadeiro Salvador, o Rei pacífico, faz um convite a todos os cansados e fatigados: “Vinde a mim, e eu vos darei descanso!” O mestre nos convida a todos a abandonarmos nossos jugos, aquilo o que nos pesa sobre os ombros, e a tomarmos sobre nós o seu jugo, o seu fardo, que é suave e leve. No v. 29 Jesus se apresenta nos moldes do Messias anunciado pelo profeta Zacarias: “aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. O binômio “manso e humilde” retoma o imaginário e até mesmo a expressão ’anî (pobre/humilde) de Zc 9,9. O Cristo manso e humilde, o Messias sofredor, o Rei pacífico, convida a todos os que sofrem, os que se sentem sobrecarregados, a ir até Ele. Nesse encontro deve haver uma troca: colocar aos pés do mestre o próprio jugo, seja ele qual for, e receber sobre si um outro jugo, aquele do próprio Senhor.
Qual é o jugo do Senhor? O caminho da vivência dos preceitos evangélicos. Este é um caminho, sem dúvida alguma, exigente. Mas, em Cristo, torna-se suave e leve. Primeiro, porque podemos olhar seu exemplo: Ele é o mestre que não somente ensinou, mas viveu até o fim o que ensinou. Por isso, Ele pode dizer: “Aprendei de mim” (Mt 11,29). Mas que “ouvir uma lição”, a expressão significa contemplar uma ação que serve de exemplo. Foi assim a vida de Jesus: ensinava e colocava em prática o que ensinava. Algumas vezes, seu gesto até precedia o ensinamento que queria oferecer, como na última ceia (cf. Jo 13). O jugo de Jesus, o caminho do Evangelho, torna-se suave e leve, ainda, porque Jesus é o Senhor bondoso que nos perdoa e que nos sustenta em nossas quedas. Se estamos dispostos a continuar o caminho, as quedas não são para Ele um empecilho. Ele sempre nos levantará e nos ajudará a seguir adiante.
Nestes tempos difíceis que estamos vivendo, se torna ainda mais necessário acolher o convite que o Senhor Jesus hoje nos faz. A maioria de nós sente-se cansado, fatigado… Estamos atravessando um drama coletivo: não é mais a dor de um e de outro, mas a dor de todos. As perdas, o medo, o isolamento, as inseguranças… são muitos os fardos que pesam em nossos ombros. Aceitemos o convite de Jesus; façamos essa troca tão vantajosa para nós: entreguemos a Ele o que nos pesa e recebamos em nossos ombros o jugo suave e leve do Evangelho. Com certeza, encontraremos assim o descanso e a paz que desejamos.