1ª Leitura: Is 60,1-6
Sl 71
2ª Leitura: Ef 3,2-3a.5-6
Evangelho: Mt 2,1-12
“Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo”
Ainda neste clima que o tempo do Natal nos proporciona, celebramos hoje a Solenidade da Epifania do Senhor. O que vem a ser esta festa? A palavra Epifania, de origem grega, significa “manifestação”. Era uma palavra usada no mundo grego para designar a vinda do soberano à determinada cidade. Esta se tornou a palavra que os cristãos começaram a usar então para designar a vinda do Verdadeiro Soberano, do Desejado das Nações, a vinda do Cristo, nosso Senhor e Salvador, que “manifestou–se” a todas as nações na simplicidade da gruta de Belém.
Cristo é aquele que veio para realizar a profecia que hoje a liturgia da Palavra nos apresenta. Na primeira leitura, o profeta Isaías nos diz “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor. Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti (cf. Is 60,1-2).” Cristo é a luz que ilumina Jerusalém. Ele é o rei cantado pelo Salmo 71 que também hoje a Igreja coloca em nossos lábios. Ele é o rei que vem governar os povos com justiça e julgar com equidade os pobres. Cristo é aquele ao qual “todas as nações da terra hão de adorar”.
A segunda leitura, um trecho da carta de São Paulo aos Efésios, nos fala do “mistério”, que é o “plano salvífico de Deus”, antes oculto e agora plenamente manifesto. Esse “mistério” é o próprio Cristo. Seu anúncio, sua Páscoa, a inserção de todos os homens no projeto salvífico do Pai, a abertura das portas da eternidade para todos aqueles que por ela quiserem, pela fé, passar, eis o “mistério” de Deus, seu eterno plano de amor, que agora nos foi revelado em Cristo. A Solenidade da Epifania do Senhor nos faz contemplar esse mistério, no rosto ainda infantil de Nosso Salvador.
Poderíamos nos deter, todavia, um pouco mais, na cena do Evangelho, que é sempre o coração de toda a liturgia da Palavra. Os magos vêem no céu um sinal do Rei-Divino que acaba de nascer. Guiados pela estrela, os magos vão até Jerusalém e indagam ao rei a respeito do novo rei que acabara de nascer: “Nós vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.” Esse é o desejo que está no coração dos magos do oriente: adorar o Novo Rei.
Herodes, no entanto, teme perder o seu reinado. Consulta seus escribas e aponta o caminho até onde deve nascer o novo rei. A estrela continua a conduzir os magos até a gruta de Belém. Ao verem de novo a luz da estrela o coração dos magos se encheu “de uma alegria muito grande”. Ao entrarem na casa e ao verem o menino com Maria, sua mãe, ajoelharam-se diante dele “e o adoraram”. Os povos pagãos, representados na figura destes três magos, adoram o Deus Único e Verdadeiro. Os reis abrem seus tesouros e oferecem místicos presentes: ouro, para o rei; incenso, porque esse menino é Deus; mirra, porque Ele vai morrer pelos nossos pecados.
Ao fazer uma leitura espiritual destes textos percebemos as realidades divinas que nos são manifestadas. A Igreja é a verdadeira Jerusalém, que é chamada pelo profeta Isaías a ser luz, porque apareceu sobre ela a glória do Senhor. A Igreja é a luz dos povos porque nela está Aquele que é a Luz. A glória de Deus se manifesta na Igreja. A terra está envolvida em trevas e nuvens escuras cobrem os povos, como ouvimos o profeta dizer. Neste contexto, a Igreja aparece como a estrela que conduziu os magos. Ela reflete a luz do Cristo. Ela reflete uma luz que recebe de um outro astro. E se deixasse de refletir essa luz cairia nas trevas. Ela reflete a luz do Cristo, e nunca deixará de refletir essa luz porque Cristo à ela se uniu definitivamente.
Nós também dizemos que Maria é a estrela. Existe um hino antigo onde nós cantamos Ave Maris Stella, Salve Estrela do Mar. Maria reflete a luz d’Aquele que nasceu das suas entranhas. Maria reflete para nós a luz do Salvador. E cada um de nós, cristãos, Igreja viva do Senhor, devemos ser como Maria. Também nós não possuímos uma luz própria. Por isso, precisamos estar sempre voltados para o Cristo, porque Ele é o verdadeiro sol que nasceu das alturas. Precisamos receber sempre da sua luz para podermos ser iluminados e para refletirmos a sua luz, a fim de sermos como a estrela que conduziu os magos; a fim de podermos não com um esplendor nosso, mas como reflexos luminosos da luz do Cristo, apontar o caminho que conduz ao Salvador. Precisamos nos voltar para Aquele que é a luz. E como podemos fazer isso? Imitando os magos na sua adoração.
O Evangelho que hoje nos é proposto nos relata a palavra dos magos: “Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo”. Depois o evangelista nos narra que esse desejo se transformou numa atitude verdadeira de adoração: “Viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram.” Precisamos aprender com estes magos a adorar o Senhor. A oração cristã é, sobretudo, adoração. Devemos pedir ao Espírito Santo que nos ensine a adorar o Senhor. A nossa oração é muitas vezes caracterizada pelo pedir ou pelo suplicar perdão. Essas são também formas de oração. Mas a mais sublime delas é a adoração; é o prostrar-se diante de Deus para adorá-lo por aquilo o que Ele é. Na adoração nós não condicionamos a nossa oração. A adoração não está movida por uma finalidade, nem pelo desejo de alcançar algo. A adoração é um movimento que nasce na alma humana; é um místico conhecimento de que estamos diante de uma presença que nos supera, de um mistério que não podemos abarcar todo ele com nossa inteligência e, por isso, a atitude que cabe ao homem é a adoração, é o dobrar-se diante do mistério em contemplação e se deixar ser inundado pela sua luz deífica.
Hoje, adoremos o Senhor. Vamos à assembleia cristã para isso, para adorá-lo! Abramos ao Senhor o místico presente da adoração. Sim, a nossa adoração é um presente para Deus. Que grande graça, podermos oferecer a Deus nosso presente! Não deixemos de fazê-lo. Abramos o tesouro do nosso coração e como os magos vindos do oriente, ofereçamos em Espírito e em Verdade a nossa adoração, a fim de sermos inundados pela luz d’Aquele que nasceu para iluminar a todos quanto andavam nas trevas.