1ª Leitura: Mq 5,1-4a
Salmo 79
2ª Leitura: Hb 10,5-10
Evangelho: Lc 1,39-45
“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.”
O Batista pula “de alegria” no ventre de Isabel e esta fica cheia do Espírito Santo. A alegria do Batista é sinal de reconhecimento da presença d’Aquele que Maria traz em suas entranhas, o Messias. Assim como outrora o povo se alegrava pela presença da Arca da Aliança que trazia em si a promessa de Deus, ou seja, as tábuas da Lei, agora Isabel se alegra pela presença da nova Arca da Aliança, Maria, que traz em seu seio Aquele que realiza definitivamente a salvação do seu povo. A Lei, que preparava a sua vinda, já era causa de imensa alegria, porque era o testemunho da Aliança de Deus com os homens. Todavia, essa Aliança não ficou na letra, nem somente na Palavra, mas a Palavra se fez carne (Jo 1,14) e a Aliança foi ratificada, e a promessa de salvação realizada.
Esse desejo pela vinda do Messias está expresso na profecia de Miquéias que ouvimos neste quarto domingo do Advento. De Belém, daquela que era considerada uma das menores cidades de Judá, virá o Messias. Esta é a cidade onde se originou a família de Davi. Seu nome significa “casa do pão”. Nada mais significativo do que Aquele que se apresentou a nós como o verdadeiro “pão do céu” (cf. Jo 6) nascer na “casa do pão”.
Ao lermos essa profecia em chave neotestamentária podemos perceber que é de Cristo que o profeta fala, ainda que sem compreender plenamente o sentido de sua profecia. A origem do Senhor vem de tempos remotos, de toda a eternidade, porque Ele sempre esteve junto com o Pai. O povo se sentia no abandono, entregue ao seu próprio pecado, até que uma mãe deu à luz e nasceu para nós o Salvador, que é o Cristo Senhor. Ele é o dominador, o Senhor, no novo Israel de Deus que é a Igreja.
Essa profecia se realizou em Cristo, mas ainda está à espera de consumação, porque o profeta diz que ele estenderá seu poder até os confins da terra e os homens viverão em paz, e Ele mesmo será a Paz. O poder de Cristo já se estendeu até os confins da terra, todavia nós ainda não vemos, porque os nossos olhos ainda são carnais. Mas, chegará o dia em que o Senhor voltará e todos poderão ver a sua salvação. Quando Ele voltar, o seu poder há de se manifestar em toda a sua força e Ele será a nossa Paz. A verdadeira Paz é o Cristo. Ele sim fez do que era dividido uma unidade. Não existe verdadeira paz quando os poderes que se opõem estão em um mero equilíbrio, porque esse equilíbrio pode se romper a qualquer momento. E, além do mais, manter poderes opostos em equilíbrio exige concessões. Então, o que entendemos como paz não é paz. A verdadeira paz é o Cristo. Somente Ele nos faz unos e sem unidade não há paz.
A profecia de Miquéias nos faz, então, contemplar a salvação realizada em Cristo, mas ao mesmo tempo desejar a consumação dessa salvação na sua segunda vinda. Nós a esperamos e a anunciamos, como o faziam os apóstolos. E, porque desejamos essa segunda vinda, nós cantamos com o salmista: “Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos! Ó Pastor de Israel, prestai ouvidos. Vós que sobre os querubins vos assentais aparecei cheio de glória e esplendor!” Cantamos com o salmista desejando que Ele apareça, cheio de glória. Não que na sua primeira vinda não tivesse aparecido na glória. Sim, a sua primeira vinda também foi de glória. Porque, em Deus, kénosis e glória são movimentos que se complementam. Nós temos um falso conceito do que seja glória. Na pobreza do presépio, no esvaziamento do presépio, está escondida uma glória que não podemos entender.
Para o Cristo, a glória consiste em fazer a vontade de um Outro, a vontade do Pai. Se a encarnação é a vontade do Pai, isso é glória para o Cristo. Ele se esvazia e glorifica o Pai e por isso o Pai o glorifica e o fará aparecer no final dos tempos revestido agora de toda a sua glória e majestade. É isso o que nos ensina a carta aos Filipenses, naquele belo hino onde Paulo relembra aos cristãos de Filipos que a kénosis, o esvaziamento, é necessário para que sejamos exaltados no último dia pelo Pai. A glória de Cristo está em esvaziar-se totalmente para a nossa salvação. E jubilosos por esse esvaziamento de amor nós suplicamos o segundo movimento prometido e esperado, a sua volta em todo o seu esplendor para nos levar com Ele. Esse duplo movimento do Advento, essa dupla espera não pode ser deixada de lado.
Maria é declarada no evangelho que acabamos de ouvir como “bem-aventurada”. Em que consiste a bem-aventurança de Maria? Em ter acreditado na Palavra de Deus que ela recebeu: “Bem-aventurada aquela que acreditou” (Lc 1,45). Maria recebe a Palavra e fica cheia do Espírito. E justamente porque está cheia do Espírito, ela o comunica àqueles que a encontram – Isabel e João Batista – e canta, na continuação desse evangelho, sua grande berakah, um grande louvor a Deus em seu magnificat.
Nós que nos reunimos para celebrar a Eucaristia recebemos a Palavra, e essa Palavra que nós recebemos vem cheia do Espírito Santo. Seremos bem-aventurados se recebermos como a Virgem essa Palavra. Ela é fecunda, pois gera em nós o Cristo. Assim como a Virgem creu e pela sua fé gerou o Verbo, também a Igreja crê e pela fé gera o Verbo continuamente na alma dos fiéis e no meio do mundo. Peçamos a Deus o dom da fé, para sermos bem-avent/urados e para vermos se cumprir em nós aquilo o que a Palavra hoje nos revela como promessa de Deus: “Os homens viverão em paz, pois ele agora estenderá o poder até os confins da terra, e ele mesmo será a Paz.”