1ª Leitura: Is 35,1-6a.10
Sl 145
2ª Leitura: Tg 5,7-10
Evangelho: Mt 11,2-11
Hoje a Igreja celebra o Domingo da Alegria (Gaudete). Este domingo recebe este nome em virtude da antífona de entrada da missa de hoje, que é um convite a entrarmos na alegria divina, em virtude da proximidade da celebração do nascimento de nosso Salvador: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto.” (cf. Fl 4,4-5)
A perspectiva escatológica desta primeira parte do tempo do Advento se pode sentir na segunda leitura. Tiago menciona duas vezes (Tg 5,7-8) a “Parusia do Senhor”, isto é, sua segunda vinda. Ao mesmo tempo que afirma estar próxima essa vinda do Senhor (Tg 5,8), ele exorta os cristãos a “ficar firmes”, a ser “pacientes”, fortalecendo os corações. Talvez alguns estivessem duvidando da vinda do Senhor, por isso, Tiago os exorta e reanima ao mesmo tempo.
A imagem utilizada pelo autor da carta é a do agricultor: ele “espera”, depois da semeadura, que as chuvas venham e que a semente comece a produzir seu fruto. O mesmo verbo “esperar” (em grego, ekdechomai) ocorre em Hb 10,13 e 11,10. Em Hb 10,13 é o Cristo que, assentado à direita do Pai, “espera” o momento no qual o seu Reino deve se estabelecer definitivamente; em Hb 11,10, por sua vez, fala-se de Abraão, que partiu da sua terra em direção à terra que Deus lhe haveria de mostrar movido pela fé que o fazia “esperar” algo ainda de mais grandioso da parte de Deus. Assim, também, o cristão deve esperar com paciência, suportando com ânimo firme os sacrifícios de cada dia, na certeza de que chegará o tempo da justiça de Deus, onde Ele dará a cada um de acordo com suas obras.
A primeira leitura se abre com um convite à alegria: Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Anunciando a volta do exílio, o profeta se dirige, de modo particular, aos que estão desanimados, enfraquecidos, e os exorta a crer que Deus virá “para salvar” (Is 35,4). Os sinais deste tempo da manifestação de Deus em favor do seu povo são: os cegos voltarão a ver e os surdos a ouvir; os coxos saltarão e os mudos poderão falar. O povo retornará para casa cheio de gozo e não mais conhecerá a dor e o pranto.
De modo sublime, foi em Cristo que se deu a grande manifestação de Deus em favor do seu povo. Graças à sua Páscoa, nós poderemos voltar para a nossa casa: a Jerusalém celeste. Depois de uma vida cheia de quedas e soerguimentos, esperamos entrar na posse do Reino, onde não haverá mais dor e nem pranto. É em virtude dessa esperança que podemos e devemos nos alegrar. Dentro da perspectiva de uma escatologia universal, como nos recorda o Advento, sabemos que não somente cada de um nós individualmente, mas a história como um todo chegará ao seu momento de consumação, onde Cristo, com sua Parusia, conforme nos fala a epístola, inaugurará um tempo novo, de graça e justiça.
No evangelho, que é o coração de toda a liturgia da palavra, João Batista manda seus discípulos perguntarem a Jesus se Ele é, de fato, o Messias esperado. Jesus não lhes dá uma resposta direta, mas lhes convida a interpretar os sinais, que nos recordam o texto de Isaías ouvido hoje e, também, outros textos da Escritura (Is 61,1 etc): os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados (Mt 11,6). Jesus se apresenta, assim, como o Messias esperado, aquele que foi anunciado pelos profetas. Contudo, Jesus é mais do que aquilo o que se esperava dele, por isso a exortação que segue o v. 6: Feliz (bem-aventurado) aquele que não se escandaliza de mim.
Na sua segunda parte (vv. 7-11), o Evangelho traz um elogio de Jesus a João Batista. A ele se aplica, com algumas modificações, a profecia de Ml 3,1: João é o mensageiro anunciado, que deveria preparar o caminho do próprio Senhor. Apresentando João como o mensageiro anunciado por Malaquias, Jesus se apresenta como o “Senhor do Templo”, como Deus mesmo que vem para restabelecer um culto segundo a justiça e para fazer valer o direito (Ml 2,17 – 3,5).
O v. 11, todavia, encerra o trecho do evangelho proclamado neste domingo com uma mensagem enigmática: Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. O dito é introduzido de modo solene: Amém (em verdade), vos digo… Aqui parecem estar contrapostas duas épocas: a do anúncio e a da realização. João é o maior de todos os nascidos na época do anúncio: ele é um profeta, mas também é mais que isso. João não somente anunciou a vinda do Messias como o fizeram os outros profetas, mas ele foi o seu precursor, o mensageiro anunciado por Malaquias que precedeu e preparou sua vinda. Por isso, ele é o maior entre os nascidos de mulher. Cristo, contudo, inaugura um tempo novo, o tempo messiânico. N’Ele, todos os anúncios dos profetas se concretizaram. Por isso, quem nasce nessa nova economia experimenta uma graça maior. Em virtude disso, é que Jesus afirma que o “menor” no Reino dos Céus é maior que João.
Nós nascemos neste “tempo novo” inaugurado pelo Cristo, por isso nosso coração deve se encher de alegria. Como Jesus mesmo afirma em Mt 13,16-17, nossos olhos veem e nossos ouvidos ouvem, o que muitos profetas e justos desejaram ver e ouvir. Eles ficaram no desejo, nós temos a visão… alegremo-nos. Esta deve ser a razão da nossa alegria: Cristo manifestou-se, ele veio até nós, a salvação chegou para nós. Não deixemos que as sombras deste tempo obscureçam nossa fé. Aquele que veio uma primeira vez, virá também uma segunda vez. Não somente cada um de nós pessoalmente acolherá sua vinda no juízo particular, mas haverá também uma segunda e definitiva vinda do Senhor, um juízo universal e absoluto, depois do qual seu Reino de amor será estabelecido sobre a Terra. Que esta esperança fortaleça nossas “mãos enfraquecidas” e nossos “joelhos debilitados”. Criemos ânimo, pois Ele veio, nos salvou, e virá uma vez por todas no fim dos tempos.