1ª Leitura: Is 35,1-6a.10
Sl 145
2ª Leitura: Tg 5,7-10
Evangelho: Mt 11,2-11
Hoje a Igreja celebra o Domingo da Alegria (Gaudete). Este domingo recebe este nome em virtude da antífona de entrada da missa de hoje, que é um convite a entrarmos na alegria divina, em virtude da proximidade da celebração do nascimento de nosso Salvador: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto.” (cf. Fl 4,4-5)
Devemos nos alegrar porque o Senhor está perto. A proximidade do Natal do Senhor nos traz alegria e renova a nossa esperança. A proximidade do Natal nos faz lembrar da totalidade da promessa de Cristo para nós. O que Cristo nos prometeu é que Ele viria uma segunda e definitiva vez, coroado de glória, cercado pelos seus anjos para levar a termo a obra da salvação iniciada na encarnação. O Natal nos recorda que Deus foi fiel ao enviar o seu Filho uma primeira vez; porque então duvidamos de que a promessa se realizará definitivamente? Este é o motivo da nossa alegria. Vivemos uma espera plena de esperança; vivendo uma espera que já é certeza, porque sabemos que assim como é certo que Ele veio uma primeira vez; assim como é certo que Ele está presente no meio de nós; assim também é certo que Ele virá uma segunda e definitiva vez para levar a termo a obra da salvação.
A primeira leitura que ouvimos pertence à primeira parte do livro de Isaías (proto-Isaías). O profeta exorta o povo a criar um novo ânimo, porque o exílio terminará. “Fortalecei as mãos enfraquecidas”; “firmai os joelhos debilitados”; “dizei às pessoas deprimidas: criai ânimo, não tenhais medo”. Isaías descreve como sinal da vinda do Messias curas prodigiosas e a alegria da criação, que exulta com a chegada do salvador. Os sinais descritos por Isaías se realizam no Cristo, o Salvador esperado. Vemos no evangelho que os discípulos de João são enviados para perguntar a Jesus se Ele era o Messias que devia vir ou se deviam esperar outro. Jesus alude aos sinais messiânicos que Ele realiza: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados e os pobres são evangelizados!
A terra inteira exulta de alegria porque chegou o Salvador. Os deprimidos devem criar ânimo, as mãos enfraquecidas devem ser fortalecidas e os joelhos debilitados devem ser firmados, porque chegou o Salvador. O Salvador chegou e inaugurou um novo tempo.
Vemos que ao falar de João Batista Jesus diz que não há entre os nascidos de mulher ninguém maior que João Batista. Por que Jesus diz isso a respeito de João: porque João foi o maior de todos os profetas, tendo em vista que ele não somente anunciou como Isaías a chegada do Messias, mas ele o viu, ouviu e o batizou para cumprir toda a justiça. João Batista é o maior entre os que haviam nascido até então. Mas, o menor no Reino dos Céus é maior que João. O que Jesus quer dizer com isso? Jesus quer dizer que João foi um grande homem, um grande profeta, mas João ainda pertence à antiga economia. Cristo inaugura um novo tempo, o tempo escatológico, o tempo da Igreja, o tempo da realidade, o tempo em que as profecias se realizam e a antiga economia é substituída pela nova. Por isso, neste tempo que Jesus inaugura, o menor é maior do que o maior na antiga economia. Jesus inaugura o tempo da graça, o tempo da sua presença no meio de nós, o tempo da alegria messiânica.
Embora vivendo num tempo infinitamente melhor do que era o tempo da expectativa da chegada do Messias, nós também vivemos num tempo de espera. Esperamos pela segunda vinda do Senhor. Também nos sentimos numa espécie de exílio espiritual, longe do Senhor. São Paulo expressa isso para nós: “Sabemos, com efeito, que, se a nossa morada terrestre, esta tenda, for destruída, teremos no céu um edifício, obra de Deus, morada eterna, não feita por mãos humanas.” (cf. 2Cor 5,1ss).
Para São Paulo também vivemos uma espécie de exílio. Vivemos num tempo intermediário, onde não estamos mais no tempo da promessa messiânica do AT, mas ainda esperamos que a obra de Cristo chegue a termo. Por isso vivemos um exílio espiritual. Neste tempo de exílio o texto de Isaías nos consola: “Os que o Senhor salvou voltarão para casa. Eles virão a Sião cantando louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos: cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto.”
Sião significa a cidade celeste. Cada vez que entramos na Igreja vivemos esse prenuncio dos tempos futuros. O templo é símbolo da cidade celeste. Quando ali entramos é como se antecipássemos a nossa volta para casa. Ali reunidos somos convidados a entrar na alegria de Deus porque Ele mesmo elimina de nossos rostos a dor e o pranto. Mas chegará o dia definitivo, no qual nós voltaremos para casa. Jerusalém é nossa casa. E lá os nossos rostos brilharão de alegria. Não haverá mais lágrimas, estaremos cheios de gozo e contentamento, porque os nossos olhos brilharão diante da visão de Deus. Enquanto esperamos este dia definitivo, façamos o que nos exorta a segunda leitura, esta perícope da carta de Tiago: sejamos pacientes. Tiago utiliza uma imagem muito simples para nos indicar o caminho da paciência: assim como o lavrador aguarda paciente as chuvas temporãs para que nasça o fruto da terra que já foi semeada, assim também nós cristãos devemos pacientemente aguardar vinda do Senhor, “fortalecendo os nossos corações” e lembrando-nos cada dia do juízo de Deus que virá sobre nós, ou seja, vivendo a vida cristã plenamente em vista do Reino que já está próximo.