1ª Leitura: 2Mc 7,1-2.9-14
Sl 16
2ª Leitura: 2Ts 2,16-3,5
Evangelho: Lc 20,27-38
Ao despertar, me saciará vossa presença e verei a vossa face (cf. Sl 16[17],15)
A liturgia que celebramos é sempre louvor ao Pai que, em seu Filho Ressuscitado, nos faz participar de sua glória. Cristo Ressuscitado está no meio de nós e Ele é a razão da nossa festa. É por Ele e para comemorar a Ressurreição d’Ele que celebramos o Domingo. Mas, ao olharmos para o Ressuscitado é nossa própria Ressurreição que entrevemos. Ao celebrarmos a sua Páscoa é a certeza da nossa Páscoa que renovamos.
A liturgia da Palavra deste domingo nos faz lançar um olhar para a Ressurreição que nós aguardamos. O apóstolo Paulo nos ensina que, se Cristo Ressuscitou, também nós ressuscitaremos com Ele. A fé na ressurreição nós já a encontramos no AT. A primeira leitura que ouvimos nos apresenta o martírio dos sete irmãos macabeus. Estes jovens proclamam solenemente sua fé na Ressurreição quando dizem: “… o Rei do universo nos fará ressurgir para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis!” (2Mc 7,9) e ainda: “Do céu recebi estes membros, e é por causa de suas leis que os desprezo, pois espero recebê-los novamente” (2Mc 7,11).
Essa esperança na vida futura e na ressurreição dos mortos é-nos confirmada pelo próprio Cristo. Nesta passagem do evangelho, o Senhor é interrogado pelos saduceus, que negam a existência da ressurreição.
Os saduceus apresentam a Cristo o caso de uma mulher cujo marido havia morrido sem lhe deixar filhos. Os irmãos do seu marido, cumprindo a “lei do levirato” prevista em Dt 25,5-10, um a um tentam dar ao irmão falecido uma descendência. Todos os sete irmãos, todavia, morrem sem deixar uma descendência e, por fim, morre também a mulher. Os saduceus propõem então a Cristo a questão fundamental: De quem ela será mulher na outra vida?
A pergunta dos saduceus exprime não somente a sua descrença na ressurreição, mas também o seu erro em achar que a vida futura consistiria numa mera cópia dessa vida presente. Jesus responde aos saduceus não somente afirmando a ressurreição como uma realidade de fé, mas ainda dando-lhes um precioso ensinamento sobre o que significa a vida futura. Jesus afirma solenemente: “Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, mas os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento; e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram” (cf. Lc 20,34-37).
Jesus afirma com veemência o realismo da ressurreição e explica em que consiste a vida futura: seremos semelhantes aos anjos, filhos de Deus, filhos da ressurreição. A vida futura não consiste nessa vida melhorada. O que teremos na outra vida é algo, como diz Paulo, que os nossos olhos não viram, os nossos ouvidos não ouviram e o nosso coração nunca percebeu (cf. 1Cor 2,9). Lá, no século vindouro, nós encontraremos o que verdadeiramente corresponde à nossa essência. Lá seremos saciados com a visão de Deus. É isso que proclama o salmista, quando afirma: “ao despertar eu me saciarei com tua imagem”.
Ao lermos esse salmo em chave neotestamentária eis o que encontramos: a certeza a respeito da ressurreição. Sim, entraremos no sono da morte, mas seremos despertados, chamados pelo nome, e nós que nunca encontramos nesse mundo a verdadeira saciedade, seremos saciados pela visão de Deus.
Tantas vezes reclamamos que algo nos falta. Em tudo sentimos que nunca chegamos à saciedade. Procuramos preencher nosso desejo de eternidade em coisas humanas, que são incapazes de nos saciar plenamente. Sentimos em nós uma fome e uma sede que nada nesse mundo pode extinguir. Que alegria, nós que assim vivemos, ouvirmos hoje essa Palavra que nos dá a certeza de que seremos saciados, na vida futura, com a visão de Deus. “Ao despertar, eu me saciarei com tua imagem!”
“Ao despertar!” Sim, Deus nos erguerá, nos despertará do sono da morte. A fé na ressurreição é essencial para nós, pois ela alimenta a nossa esperança. A expectativa da vida futura nos faz não querer conformar-nos com este século porque percebemos que somos “filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição”.
Nós participaremos plenamente da glória de Deus; viveremos para contemplá-lo e adorá-lo, pois seremos como os anjos. Nessa palavra se baseia, também, o carisma do celibato e da virgindade consagrada. Os consagrados e consagradas vivem já aqui o que será a vida futura. Nessa Palavra também os casados percebem que o seu matrimônio não é a realidade última, nem um fim em si mesmo, mas um meio de colaborar aqui com a obra da criação em vista da realidade última que é o Reino para o qual nos encaminhamos.
Cristo não somente nos garantiu pela sua Palavra a ressurreição, mas Ele nos “gerou” para essa nova vida com a sua própria ressurreição. Porque Ele ressuscitou também nós ressuscitaremos. Essa é a nossa certeza e a causa da nossa esperança em Cristo Jesus. E enquanto aguardamos o cumprimento da sua promessa, seguimos a recomendação do apóstolo, pedindo também: “orai por nós, para que a Palavra do Senhor continue o seu caminho, e seja glorificada” (cf. 2Ts 3,1) e oramos por vós para que “o Senhor conduza os vossos corações para o amor a Deus e a perseverança de Cristo” (cf. 2Ts 3,5), até que “ao despertar” a visão da sua imagem nos sacie!