1ª Leitura: Br 5,1-9
Salmo 125 (126)
2ª Leitura: Fl 1,4-6.8-11
Evangelho: Lc 3,1-6
Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas…
Neste segundo domingo do Advento, a oração coleta nos diz: “Ó Deus todo-poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruídos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida.” Com esta oração, suplicamos a Deus, que é “cheio de misericórdia”, a graça de corrermos livremente ao encontro dele. Mais ainda, pedimos a graça de ser instruídos pela “sua Sabedoria” a fim de participar cada vez mais intimamente da plenitude da sua vida. E como podemos ser instruídos pela sabedoria de Deus senão através própria Palavra de Deus? A liturgia se torna, portanto, um lugar privilegiado de crescimento na sabedoria, aquela “sabedoria verdadeira” que nos vem da parte Deus.
A primeira leitura de hoje se assemelha, do ponto de vista da promessa que traz, à primeira leitura do domingo passado. Baruc profetiza um tempo de libertação para o povo. Depois de encontrarmos uma confissão dos pecados do povo – como aquela de 1,15: “Ao Senhor nosso Deus a justiça, mas a nós a vergonha no rosto…” – encontramos no livro de Baruc uma promessa de salvação que começa em 4,5. É a continuação desse texto que a liturgia de hoje nos propõe com o texto de Br 5,1-9. Jerusalém é convidada a “despir” as vestes de luto e aflição e a “vestir” para sempre os adornos da glória de Deus.
Os vv.5-7 são um convite a pôr-se no alto para contemplar a volta do exílio. Os que saíram humilhados deverão voltar “como príncipes”. E “todos os altos montes” serão abaixados e os “vales” serão a terrados, a fim de que o caminho a ser feito pelo povo seja plano e reto, sem obstáculos. No v.8 encontramos a ordem dada por Deus para que todo o cosmo colabore na volta do povo, dando sombra para este passar as árvores odoríferas. Enfim, no v. 9, Deus aparece como o guia de Israel, e este como o povo que é conduzido com alegria, à luz de sua glória, e fazendo a experiência da misericórdia e da justiça que de Deus procedem.
Este oráculo de salvação de Baruc se assemelha com o oráculo de Is 40,1-5, que abre o Dêutero-Isaías onde nós encontramos o retorno do exílio apresentado como um novo êxodo. Também Isaías anuncia que essa salvação será vista por todos, tendo assim um alcance universal.
O texto de Is 40,3-5 é justamente aquele que é citado no evangelho de hoje, Lc 3,1-6, coração da liturgia da Palavra. Neste evangelho, aparece a figura de João Batista, uma figura que marca este período do Advento. João Batista é a ponte entre os Antigo e o Novo Testamento. Ele é o “Precursor”. Dele, afirma São Gregório de Nazianzo: “Depois daquela tênue lâmpada do Precursor, veio a luz claríssima de Cristo; depois da voz, veio a Palavra; depois do amigo do esposo, o Esposo”.
Os vv. 1-2 do Evangelho trazem a localização histórica da pregação de João Batista. Sendo que o v. 2 se alinha muito ao que encontramos na introdução do livro de vários profetas do Antigo Testamento, pois ele traz a expressão “a palavra de Deus foi dirigida a João”. De fato, João é o último dos profetas e o maior deles, no dizer do próprio Cristo (cf. Mt 11,11), pois ele não somente anunciou, mas viu e batizou o próprio Salvador.
É nos vv. 3-6 que encontramos a atuação de João Batista que, no dizer de Lucas, cumpre o texto de Is 40,3-5 e, também, o de Baruc 5, que ouvimos na liturgia da Palavra de hoje. Tanto as expressões “aplainar as colinas” e “aterrar os vales”, quanto a manifestação universal da salvação de Deus estão aqui descritos.
Diante dessa perícope evangélica, no contexto do Advento que estamos celebrando, poderíamos nos perguntar: quais vales precisam ser aterrados e quais colinas e outeiros precisam ser rebaixados? Em outras palavras, quais obstáculos precisam ser removidos para que a vinda do Senhor aconteça? Existem, sem dúvida, caminhos que precisam ser aplainados no meio do mundo, mas existem também caminhos que precisam ser aplainados dentro do nosso coração. O Senhor veio uma primeira vez e virá gloriosamente no fim dos tempos, existe, contudo, o que São Bernardo chama de uma “vinda intermediária” do Senhor. Nesta “vinda intermediária” ele visita o coração de cada homem. Estamos prontos a acolhê-lo ou os vales da dissipação e as colinas do nosso orgulho ainda nos impedem de acolher sua Palavra, sua vinda?
Olhando para a segunda leitura vemos que, a exemplo da que ouvimos na semana passada, hoje o texto de Fl 1 chama a nossa atenção para a necessidade de sempre crescer mais na fé. Cada novo ano litúrgico constitui, aliás, uma nova chance de crescimento. Por isso, as celebrações da vida da Igreja se repetem, mas nunca envelhecem, porque elas sempre nos trazem a chance de um novo e ainda mais pleno crescimento na vida da graça.
Em Fl 1,9-10 São Paulo diz: “E isto eu peço a Deus: que o vosso amor cresça sempre mais, em todo o conhecimento e experiência, para discernirdes o que é o melhor. E assim ficareis puros e sem defeito para o dia de Cristo…” Paulo tem presente diante dos olhos o “dia de Cristo”, o mistério da sua segunda e definitiva vinda e, por isso, ele exorta os cristãos de Filipos a crescer sempre mais e a estar vigilantes, a fim de que “o dia de Cristo” os encontre verdadeiramente preparados. Possamos nós também seguir os ensinamentos do apóstolo. Que nosso amor cresça sempre mais, afim de sermos encontrados preparados para o dia de Cristo.