Is 40,1-5.9-11
Sl 84
2Pd 3,8-14
Mc 1,1-8
Preparai o caminho do Senhor…
O Tempo do Advento não é simplesmente uma preparação para a celebração do Natal do Senhor. Este é um tempo profético, que nos recorda que o Senhor que veio uma primeira vez na simplicidade de um menino, a fim de dar a sua vida por nós, virá uma segunda vez no fim dos tempos, revestido de glória, para estabelecer definitivamente o seu Reino.
Esse aspecto que chamamos de “escatológico” do Advento, nos é recordado pela segunda leitura. Nesse trecho da segunda carta de Pedro ouvimos acerca do tão esperado Dia do Senhor. O autor sagrado fala aos cristãos que o Senhor não demora, como pensam alguns. Ele há de cumprir sua promessa, Ele virá. Contudo, Ele espera o tempo oportuno. Este tempo que estamos vivendo é o tempo da “paciência de Deus”, pois o seu desejo é que ninguém se perca. Devemos ficar preparados, vigilantes, como nos alertava o evangelho do Domingo passado, porque este dia “chegará como um ladrão”. Enquanto aguardamos esse dia “esperado com anseio” (cf. 2Pd 3,12), devemos nos esforçar por viver uma vida pura e sem mancha e em paz. Assim, o tempo do Advento se torna para nós um tempo oportuno de conversão, de volta para Deus.
A primeira leitura deste domingo é um trecho de Is 40. O cap. 40 do livro do profeta Isaías abre a segunda parte do livro, o chamado Dêutero-Isaías. Esta segunda parte do livro anuncia um tempo em que Deus vai fazer seu povo retornar à Terra Prometida. Esse retorno será como um novo êxodo e o povo reconhecerá que Deus é o seu Criador e Libertador. Essa segunda parte do livro do profeta Isaías se abre com a expressão “Consolai, consolai o meu povo”. O povo deve ser consolado pela promessa da intervenção divina. Deus não o abandonou. Qual pastor ele vai apascentá-lo novamente, conduzi-lo à sua terra. Essa vinda de Deus, contudo, deve ser preparada. Por isso o profeta no v.3 afirma: Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada do nosso Deus.
De fato, o Senhor visitou o seu povo. Eles voltaram do exílio e tomaram novamente posse da terra. O salmo que rezamos hoje nesta liturgia se realizou na vida do povo de Israel: O Senhor nos dará tudo o que é bom… (cf. Sl 84,13). Eles experimentaram o agir benevolente de Deus…
A profecia de Isaías tinha, contudo, um alcance mais profundo. A grande visita de Deus ainda estava por vir. Essa se deu em Cristo e João Batista foi aquele que lhe preparou o caminho.
O texto de Is 40,3 é citado no evangelho de Marcos, no trecho a ser proclamado na liturgia deste segundo domingo do Advento. João Batista é compreendido pelo evangelista como a voz que grita no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas estradas. O batismo de conversão que João pregava foi a preparação para a vinda do Cristo, aquele que haveria de trazer um batismo novo e melhor, pois o próprio João Batista afirmou: Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. Eu vos batizei com água, mas Ele vos batizará com o Espírito Santo (cf. Mc 1,7-8).
Nos aproximamos pouco a pouco da celebração do Natal do Senhor, nossa grande memória da sua primeira vinda, anunciada pelos profetas e diretamente preparada pela pregação de João Batista. Este tempo do Advento, como dizíamos no início, nos recorda que o Senhor há de vir uma segunda vez no fim dos tempos e, na liturgia, nosso coração vai pouco a pouco sendo preparado, pela escuta da Palavra, para que possamos estar prontos para acolher essa segunda vinda. Abramo-nos à esta graça própria do tempo do Advento. Permitamos que a Palavra Divina seja uma voz a gritar no deserto do nosso coração. Que os caminhos sejam aplainados, ou seja, que os vales de nosso orgulho sejam aterrados e que as montanhas de nossa vaidade sejam desbastadas, para que o Senhor venha e instaure seu Reino em nosso meio.
Que a celebração do Natal do Senhor que se aproxima encha de luz nosso coração e nos renove a esperança de que Ele virá uma segunda vez: virá para resgatar-nos definitivamente, e implantar aqui o seu Reino de amor e de paz.