Jr 33,14-16
Sl 24
1Ts 3,12 – 4,2
Lc 21,25-28.34-36
Com o primeiro domingo do Advento começa um novo ano litúrgico, que é como que uma nova passagem de Deus pela história de cada um de nós. Na liturgia da Igreja, Deus vem ao nosso encontro e nos santifica à medida em que celebramos o Mistério da Páscoa do seu Filho.
O Advento é “um tempo de piedosa e alegre expectativa”. Nele nos preparamos para celebrar o Natal do Senhor e, ao mesmo tempo, nos recordamos que este mesmo Senhor virá uma segunda vez no fim dos tempos, para estabelecer de modo definitivo seu Reino de amor no meio dos homens. Todo a primeira parte do Advento tem esse colorido escatológico que se expressa quer nas leituras, quer nas eucologias (prefácios, orações, etc.).
A primeira leitura deste domingo é um oráculo de salvação que pertence a Jr 33. O profeta anuncia um tempo em que a promessa (literalmente, em hebraico boa palavra) de Deus se realizará. Deus vai fazer brotar de Davi uma “semente de justiça”. Este descendente de Davi vai estabelecer a “justiça” na terra e seu nome será “o Senhor é a nossa justiça”. A promessa de um Messias, de um descendente de Davi, vem fortemente acompanhada nesse oráculo pela ideia de “justiça”, termo que se repete por três vezes. A “justiça” está, contudo, associada à salvação e ao retorno do exílio: Judá será salvo e Jerusalém habitará em segurança (cf. v. 16).
A justiça salvífica de Deus, manifestou-se plenamente em Cristo. Ele é o nosso Salvador; aquele que veio nos “justificar” mediante seu sacrifício redentor, transportando-nos, assim, do exílio desta terra de pecado para a Jerusalém Celeste que Ele preparou para nós.
Nesse primeiro domingo do Advento, o Evangelho nos recorda que Ele há de vir uma segunda vez no fim dos tempos. Seu Reino, que já está presente de modo inicial no meio de nós, haverá de ser plenamente manifesto quando ele retornar em sua glória. É por isso que, no início deste ciclo C, começamos a ler Lucas quase que pelo seu final, ouvindo hoje a promessa que Jesus faz da sua segunda vinda em Lc 21,25-28.34-36.
O primeiro trecho do evangelho, os vv. 25-28, nos apresenta a vinda gloriosa de Cristo no fim dos tempos com imagens tomadas da apocalíptica judaica. Fala-se de sinais no sol, na lua, nas estrelas… Barulhos estrondosos no mar… Pessoas que desmaiam de medo… No meio de tudo isso, brilha um sinal de esperança: o Filho do Homem vem numa nuvem com grande poder e glória. A imagem é de Dn 7,13-14. Trata-se do Cristo, glorioso, vindo no fim dos tempos estabelecer de modo definitivo seu reino universal. Sua vinda não deve causar medo. Aos seus discípulos é dito: Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima (v. 28).
A segunda parte do evangelho, os vv. 34-36, apresentam este dia da vinda do Filho do Homem como um dia inesperado. Ele cairá “como uma armadilha” sobre os habitantes da terra. Por isso, o Senhor alerta os seus discípulos para que sejam vigilantes: Tomai cuidado… ou Prestai atenção… é a advertência do v. 34. No v. 36, um segundo alerta é dado: Ficai atentos e orai… O verbo aqui traduzido como ‘ficar atento’ é o verbo grego agrypneo, que significa literalmente ‘ficar acordado’. O cristão não pode dormir na fé, mas deve estar desperto. Seu coração, que significa, na Escritura, seu eu mais profundo, não pode se tornar pesado nem pela gula, nem pela embriaguez e nem pelas preocupações da vida. Nada deve desviar o cristão do sentido último da sua existência. Esse sentido último consiste em viver na expectativa da segunda vinda do Senhor. Até mesmo quando dorme, o cristão deve vigiar como a amada do Cântico dos Cânticos, que dizia de si mesma: “Eu dormia, mas meu coração velava” (Ct 5,2). Assim, velando no coração, aquele que espera pelo Cristo poderá ouvir sua voz, mesmo que Ele venha na noite de sua existência. Ouvindo sua voz, poderá abrir-lhe a porta e dizer: “Vem, entra amado de minha alma”. “Em oração”, de modo particular vivendo a comunhão com Cristo e com os irmãos na liturgia, que é a oração por excelência da Igreja, o cristão alimenta e renova constantemente a sua esperança na vinda gloriosa do Senhor.
A segunda leitura também nos recorda a tensão escatológica dessa primeira parte do Advento. O Apóstolo Paulo deseja que o amor (ágape) cresça cada vez mais entre os irmãos de Tessalônica. Eles devem aguardar em santidade a “parusia” do Senhor Jesus Cristo. Este termo indica muitas vezes, no NT, a segunda vinda do Cristo. O termo pode indicar ‘presença, chegada, o dia da presença’ de alguém. O cristão é alguém que aguarda esse dia da ‘vinda’, da ‘presença’ do Senhor. Claro que Ele já está presente no meio de nós. Quando nos reunimos para a liturgia, cremos estar ali presente, no meio de nós, o próprio Senhor. Contudo, esperamos pressurosos o dia da sua vinda gloriosa, onde toda carne verá a salvação que vem de Deus (Lc 3,6).
Neste tempo do Advento, neste novo ano litúrgico que estamos iniciando, façamos como o Salmista: elevemos a Deus as nossas almas, deixemos que Ele nos mostre seus caminhos e nos faça conhecer as suas estradas (cf. Sl 24[23],4). Orientados pela verdade do Evangelho (cf. Sl 24[23],5), corramos com nossas boas obras ao encontro do Cristo que vem (Oração Coleta), até que chegue o dia de sermos reunidos à sua direita na comunidade dos justos.