1ª Leitura: Is 55,1-3
Sl 144
2ª Leitura: Rm 8,35.37-39
Evangelho: Mt 14,13-21
A liturgia da Palavra deste domingo nos traz, na primeira leitura, um trecho do final do chamado Dêutero-Isaías (caps. 40-55). O profeta convida os sedentos e famintos a se aproximarem do Senhor. Deus lhes prepara um banquete gratuito, que é puro dom. Tudo o que Ele espera, no entanto, é que seu povo o escute. No v. 2 ouvimos o apelo: “Ouvi-me com atenção e alimentai-vos bem”; no v. 3, outro apelo semelhante: “Inclinai vosso ouvido e vinde a mim”. Se o povo ouvir a voz de Deus, deixando-se conduzir por Ele, experimentarão sua bondade, verão que suas promessas nunca falham, e Deus fará com eles uma “aliança eterna”.
A plena realização dessa promessa de uma “aliança eterna” deu-se em Cristo. No Mistério de sua Páscoa, o Senhor realizou conosco tal aliança, e a Eucaristia é memorial desse evento único e irrepetível, dessa aliança (cf. Mt 26,28) de amor que une o céu à terra.
A multiplicação dos pães que ouvimos neste Domingo, segundo o evangelho de Mateus, foi já um sinal daquilo o que o Cristo haveria de dar aos seus discípulos e à toda Igreja na última ceia. Todos os evangelhos nos recordam esse evento: Mc 6,31-44; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13.
Em primeiro lugar, neste relato, chama nossa atenção a compaixão do Mestre. Mateus e Marcos, ao falar da compaixão de Jesus diante da multidão, utilizam o verbo grego splanknidzomai (cf. Mt 14,14; Mc 6,34). Tal verbo, serve muito bem para expressar, na língua grega, a mesma ideia de compaixão que encontramos no Antigo Testamento expressa pelo termo rahamîn. Ambos os termos derivam de substantivos que significam “as entranhas”, o interior do ser humano. A compaixão de Jesus significa, portanto, o mover-se do seu interior em direção àquela multidão cercada por muitas carências. Aquele povo tinha caminhado a pé, muitos estavam doentes, famintos e, segundo Mc 6,34, eram como “ovelhas sem pastor”. Cristo, o Bom Pastor, não podia senão sentir compaixão de suas ovelhas, abandonadas pelos que deviam pastoreá-las. Marcos destaca o ensinamento que Jesus dava à multidão; Mateus, por sua vez, destaca a compaixão de Jesus pelos doentes: “e curou os que estavam doentes” (cf. Mt 14,14).
Tal compaixão se manifesta ainda, na preocupação de Jesus de não despedir a multidão sem antes dar-lhe de comer. Os discípulos são práticos, querem que Jesus despeça a todos antes que o dia termine, a fim de que possam sair daquele lugar deserto e comprar comida. Jesus, no entanto, dá aos discípulos uma resposta inusitada: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (cf. Mt 14,16). O Senhor como que prenuncia aqui o que ele vai dizer mais tarde, naquele banquete derradeiro: “Fazei isto em memória de mim” (cf. Lc 22,19). Já agora os apóstolos devem fazer aquilo o que farão depois: alimentar as multidões. Agora com pão, depois com o pão da Palavra e da Eucaristia.
Todos os evangelhos nos apresentam o contraste entre a pobreza daquilo o que o homem oferece e a grandeza do milagre que o Senhor realiza. Cinco pães e dois peixes alimentam uma grande multidão e ainda sobram doze cestos cheios: “eram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças” (cf. Mt 14,20). A abundância do dom é sinal do tempo messiânico, que é inaugurado por Cristo. O grande banquete anunciado por Isaías realiza-se agora, quando o Cristo multiplica o pão material, sinal daquele outro pão, o seu próprio Corpo, que ele dará como alimento permanente à sua Igreja. Os gestos de Cristo são profundamente eucarísticos: tomar o pão, erguer os olhos, abençoar o pão, partir o pão e depois distribui-lo através de seus discípulos.
Em cada celebração eucarística estes textos da Escritura se realizam diante de nossos olhos. Cristo nos convida, como já dissemos acima, a inclinarmos o nosso ouvido e nos alimentarmos da sua Palavra (primeira leitura). Depois é Ele mesmo que, mais uma vez, abençoa e parte o pão, que é seu Corpo, a fim de que nos alimentemos também do seu Corpo e Sangue, depois já termos nos alimentado da sua Palavra. Como rezamos no Salmo 144: “Vós abris a vossa mão e saciais os vossos filhos”. Deus nos sacia em cada Eucaristia.
É providencial que ouçamos esses textos nesse primeiro domingo do mês de agosto, mês vocacional. Neste primeiro domingo, nossas comunidades celebram o Dia do Padre. Os sacerdotes recebem de Cristo a mesma ordem que os apóstolos receberam no Evangelho: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (cf. Mt 14,16) Eles são os servos de Cristo que alimentam seu povo – as ovelhas das quais Ele tem grande compaixão – com a Palavra e os Sacramentos. Pela pregação e pela celebração dos sagrados mistérios, os sacerdotes cumprem na Igreja essa sua sublime vocação.
Lembremo-nos hoje de rezar pelos nossos sacerdotes. Eles são o Cristo para suas comunidades, mas são também ovelhas. Cristo também os olha com compaixão, e sempre os carrega nos braços ou nos ombros. Os sacerdotes também são seres humanos, passíveis dos mesmos sofrimentos que acometem todos os mortais. Exercem um ofício sublime, mas são feitos do mesmo pó que todos os homens. Por isso, colaboremos na sua missão sendo seus intercessores: rezemos pelos que sofrem, pelos que encontram dificuldades na missão, pelos que se sentem solitários, enfraquecidos ou abandonados. Que Deus mesmo seja sua força e consolo.