Am 7,12-15
Sl 84(85)
Ef 1,3-14
Mc 6,7-13
“Quero ouvir o que o Senhor irá falar…”
O salmo responsorial desta liturgia dominical é o Salmo 84(85). O salmista, depois de suplicar a misericórdia de Deus, assevera: “Vou ouvir o que o Senhor Deus irá falar, porque ele fala de paz, ao seu povo e a seus fiéis, para que não voltem à insensatez” (v. 9). Vou ouvir o que o Senhor irá falar… Sim, este é o desejo do salmista. Deveria ser, também, o nosso desejo: ouvir o que o Senhor tem a nos falar.
Deus nos fala sempre. Além de nos falar nas diversas situações da vida – quando estamos, de fato, atentos – Deus nos fala de modo constante e ordinário por meio da sua Palavra. Na liturgia da Igreja sempre se dá um amplo espaço à Palavra. É Deus quem entra em comunhão conosco e nos comunica a sua vontade por meio da Palavra proclamada. Contudo, mesmo diante desse gesto tão bondoso de Deus que nos dirige a sua Palavra, nós podemos nos fechar. Podemos não dar ouvidos. Hoje mesmo, podemos estar recitando esse Salmo só “da boca para fora”, como se diz, sem que isso seja uma verdade para nós: Vou ouvir o que o Senhor irá falar. Algumas vezes ouvimos, mas ouvimos como quem não gostaria de ouvir, não deixamos que a Palavra penetre em nós. É preciso ouvir de verdade, deixando que a Palavra de Deus nos atinja e nos ilumine no mais profundo de nós mesmos.
O fechamento à Palavra divina aparece muitas vezes na Escritura. Hoje, na primeira leitura, vemos um claro exemplo disso. O profeta Amós é enviado a profetizar no Reino do Norte, Israel. Ele deve falar em nome de Deus. Sua Palavra não será de consolo e nem de conforto. Ao contrário, seus oráculos serão de juízo e condenação contra aqueles que praticam a injustiça e que abandonam o Senhor. Por isso, o sacerdote Amasias manda que Amós se afaste do santuário do rei. Sugere que ele vá profetizar no Reino do Sul, em Judá, onde fará sucesso sua palavra contra o rei e os habitantes do Norte. Contudo, Amós não é um profeta de profissão, como havia muitos em Israel. Amós é um “profeta verdadeiro”, ou seja, ele foi enviado pelo Senhor que lhe disse: Vai profetizar para Israel, meu povo. Deus, movido de compaixão, enviou o profeta para pregar aos israelitas, para fazer com que, talvez, eles voltassem atrás em seu pecado. Mas parece que o profeta Amós encontrou corações fechados e, por isso, o castigo lhes sobreveio.
Também no Evangelho vemos a cena onde o Senhor Jesus envia seus discípulos. Jesus chama os doze e os envia, dois a dois. Comunica-lhes a sua autoridade, dando a eles poder sobre os espíritos impuros. Eles devem confiar na providência divina, não levando muitas coisas para o caminho. E, sobretudo, devem contar com a possibilidade de encontrar corações incrédulos: Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!
Podemos retirar para nossa vida espiritual e pastoral muitos ensinamentos da liturgia da Palavra deste domingo.
Em primeiro lugar, devemos estar atentos para que não sejamos nós os que fecham o ouvido à Palavra do Senhor. Não estejamos no número daqueles que não querem escutar ou que dizem ao profeta: Vá profetizar em outro lugar! De modo algum! Estejamos entre os que dizem com o Salmista: Vou ouvir o que o Senhor Deus irá falar, porque ele fala de paz, ao seu povo e a seus fiéis, para que não voltem à insensatez” (v. 9).
Em segundo lugar, como profetas que somos desde o nosso Batismo, somos também enviados por Cristo para anunciar a sua Palavra. Assim como Amós, não podemos resistir ao Senhor que nos envia a testemunhá-lo. Assim como os apóstolos, não podemos, senão, obedecer à voz do Cristo que nos envia. Nesse caminho, devemos contar com a providência divina. Não precisamos levar mais do que o necessário. O Senhor, a seu tempo, vai nos providenciando aquilo o que nos é necessário para a missão. Do contrário, nunca nos acharemos prontos e equipados o suficiente. Além disso, precisamos contar também com a incredulidade e o fechamento de coração das pessoas a quem o Senhor nos envia. Por estes, pelos que se fecham à Palavra, devemos rezar e deixar que Deus realize neles, a seu tempo, e na medida da abertura de coração de cada um, a sua obra.
Podemos terminar nossa reflexão olhando para a segunda leitura. Ela não está necessariamente conectada com a primeira leitura e com o Evangelho e, por isso, algumas vezes ela acaba permanecendo fora da nossa reflexão.
A segunda leitura é uma lectio cursiva de algum escrito do Novo Testamento, de modo particular das Epístolas. Hoje nos é apresentado um trecho da carta de São Paulo aos Efésios. De toda a riqueza contida nesse escrito gostaria de tomar um versículo: nós fomos predestinados a sermos, para o louvor de sua glória, os que de antemão colocaram a sua esperança em Cristo (Ef 1,11b-12).
Devemos colocar a nossa esperança em Cristo. Como isso nos anima e consola. Vivemos tempos difíceis. Não conseguimos enxergar uma solução próxima e factível para tantos problemas que nos assolam. Nesses momentos, beiramos o desespero. Quando tudo foge ao nosso controle, ficamos muito preocupados e o nosso coração fica inquieto. Podemos até mesmo nos distanciar do Senhor. No meio de todo esse turbilhão, vem o vento suave do Verbo Divino que nos diz: colocai a vossa esperança em Cristo. Isto não significa que temos que nos descomprometer com a realidade. De jeito nenhum! Devemos trabalhar, agir, procurar fazer o melhor para ajudar a sociedade no seu processo de mudança. Contudo, diante do nosso aparente fracasso, não podemos perder a esperança. Ao contrário: devemos colocar a nossa esperança em Cristo. O mal não é o vencedor. O vencedor é Cristo, aquele que ressuscitou arrancando de nossos lábios o Aleluia Pascal. Creiamos nisso!