1ª Leitura: Ez 17, 22-24
Sl 91
2ª Leitura: 2Cor 5, 6-10
Evangelho: Mc 4, 26-34
Como é bom agradecermos ao Senhor e cantar salmos de louvor ao Deus Altíssimo! (Sl 91[92],2)
O “Mistério” do Reino de Deus é manifesto, no Evangelho de hoje, em duas parábolas. Na primeira, que fala da semente que germina por si mesma, Jesus está combatendo as expectativas daqueles que, em seu tempo, e também hoje, querem pela própria força, ou pela própria razão, definir o momento da chegada do Reino.
Na época de Jesus, alguns, como os zelotas, queriam impor o estabelecimento do “Reino” à força e o entendiam no âmbito meramente político, como libertação da dominação estrangeira. Outros, como os apocalípticos, queriam prever pelos seus cálculos quando o Reino de Deus chegaria. Jesus mostra que o Reino não pode ser imposto por vontade humana, nem tampouco a razão humana pode prever a sua chegada. O Reino é como alguém que lança a semente na terra, dorme e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando por si mesma. Em outras palavras, o Reino de Deus possui em si mesmo uma força de crescimento, e ele irrompe no momento em que a vontade de Deus determina.
Em Cristo, qual semente caída na terra, o Reino de Deus se aproximou. Cabe-nos somente lançar a semente da Palavra e vermos que o Reino cresce por si mesmo. Em Cristo, o Reino de Deus se aproximou. Ele próprio é o Reino. Na Igreja, que foi com Ele identificada, e a quem está unida como a esposa a seu esposo, vemos os sinais do Reino, já presente e atuante, mas ainda não de forma definitiva (LG 5: a Igreja é o germe e o início do Reino). Nós esperamos ansiosamente pela consumação final do Reino. Esperamos que Ele venha e o Reino definitivamente se estabeleça. É o que pedimos diariamente na Oração do Pai Nosso: “Santificado seja o vosso Nome. Venha a nós o Vosso Reino.” E São Cipriano nos ensina no seu Tratado sobre a Oração do Senhor[1]: “Pode-se igualmente, irmãos diletíssimos, entender que o próprio Cristo é o reino de Deus, cuja vinda pedimos todos os dias. Estamos ansiosos por ver esta vinda o mais depressa possível. Sendo ele a ressurreição, pois nele ressurgimos, assim também se pode pensar que ele é o reino de Deus, pois nele reinaremos. Pedimos, é claro, o reino de Deus, o reino celeste, já que há um reino terrestre. Mas quem já renunciou ao mundo está acima desse reino terrestre e de suas honrarias.”
A segunda parábola, a do grão de mostarda, nos mostra como o Reino de Deus tem um início modesto, mas aos poucos cresce e se torna uma árvore na qual todos os pássaros vêm fazer seus ninhos. Essa parábola nos lembra diretamente a primeira leitura, na qual Deus promete que Ele mesmo tirará um galho da copa do cedro e o plantará num alto e elevado monte de Israel. Esse galho crescerá, dará frutos e se tornará um cedro majestoso, no qual pousarão todos os pássaros. Todas as árvores perceberão que o Senhor humilha a árvore alta e exalta a árvore baixa; que Ele faz secar a verde e brotar a árvore seca.
Esta primeira leitura constitui uma promessa messiânica. Israel está no exílio, por conta de seus próprios pecados. Todavia, Deus, que é rico em misericórdia faz uma promessa de restauração. A partir de um pequeno galho, de um pequeno resto, Ele tornará Israel glorioso de novo. Este povo se tornará novamente tão grande que será como uma árvore frondosa, na qual os pássaros virão e farão seus ninhos. Como nos recorda o salmista: “até mesmo o pardal encontra abrigo em vossa casa” (Sl 83[84],4). O Senhor promete que humilhará as árvores frondosas e fará secar as árvores verdes, ou seja, o Senhor derrotará por Israel as grandes nações que a Ele se opõem. Contudo, ele exaltará a árvore rebaixada e fará brotar a árvore seca, o próprio Israel.
Essa Palavra é, todavia, uma profecia messiânica e se realizou neste Evangelho que acabamos de ler. Cristo é o pequeno grão de mostarda, caído na terra e morto, não por seus próprios pecados, mas pelos nossos. Todavia, Ele que parecia uma árvore seca e uma árvore baixa, foi elevado pelo Pai e ressuscitou para nossa salvação. A sua cruz é a árvore da vida, frondosa e ampla, na qual todos nós, quais pássaros em busca de lugar seguro para seus ninhos, encontramos abrigo e proteção. A Igreja, identificada com seu Senhor, é essa árvore frondosa, que acolhe em seus galhos pássaros vindos de todas as nações da terra. Essa é uma Palavra que reaviva a nossa fé e nos faz olhar para aquilo o que nos espera junto do Senhor. Se a Igreja, que é ainda um “germe e início” do Reino já nos aparece como uma árvore segura e frondosa onde podemos fazer nossos ninhos, o que não será o Reino definitivo? O que não será na consumação dos tempos? Quando estivermos reunidos de novo na nossa casa, na casa que o Pai tem reservado para nós e na qual Ele nos espera ansioso, lá estaremos diante da árvore da vida e ali construiremos nossos ninhos definitivamente.
Com o salmista podemos repetir: “Como é bom agradecermos ao Senhor e cantar salmos de louvor ao Deus Altíssimo!” Quando o desânimo toma conta de nós, cantamos alegres com o salmista: “o justo crescerá como a palmeira, florirá como o cedro do Líbano; na casa do Senhor estão plantados, nos átrios de meu Deus florescerão. Mesmo no tempo da velhice darão frutos, cheios de seiva e de folhas verdejante, e dirão é justo mesmo o Senhor Deus, meu Rochedo, não existe nele o Mal.” Sim, o Senhor é o nosso Rochedo. Nele nós esperamos confiantes pelo advento definitivo do Reino, porque Ele é a Rocha, Ele é a Verdade, Ele é o Amém, sua Palavra é verdadeira. Os que não crêem nessa Palavra murcham e envelhecem diante de tantas tribulações e de tanta dor no mundo que os cerca. Todavia, os que crêem no Rochedo, nós que estamos plantados em seus átrios, no coração de sua casa, que é a Igreja, porque pelo Batismo fomos arrancados do campo do mundo e plantados no campo de Cristo que é a Igreja, crescemos como os cedros do Líbano, mesmo na nossa velhice, na nossa fraqueza, daremos frutos, cheios da seiva do Espírito que nos conserva verdejantes e cheios de esperança.
“Como é bom agradecermos ao Senhor” pelo dom da sua Palavra, pelo dom do seu Corpo e Sangue dado a nós, a seiva que nos torna verdejantes e cheios de esperança. Participemos desse Banquete que é anúncio e prefiguração do Reino que está por se consumar, até o dia em que comeremos do Banquete do Reino dos Céus, no qual Ele mesmo, de acordo com sua promessa, passando nos servirá!
[1] Cf. LH Vol. III, pp. 328-329