Ez 17,22-24
Sl 91 (92)
2Cor 5,6-10
Mc 4,26-34
“À sombra de seus ramos, as aves farão ninhos…”
O Evangelho de hoje nos apresenta duas parábolas sobre o Reino de Deus que encerram o quadro das parábolas do capítulo 4 e abrem, a partir do versículo 35, do mesmo capítulo 4, o quadro dos sinais que manifestam que, em Cristo, o Reino “se aproximou” (cf. Mc 1,15).
Na primeira parábola, que fala da semente que germina por si mesma, Jesus está combatendo as expectativas daqueles que, em seu tempo, e também hoje, querem pela própria força, ou pela própria razão, definir o momento da chegada do Reino. Na época de Jesus, alguns, como os zelotas, queriam impor o estabelecimento do “Reino” à força e o entendiam no âmbito meramente político, como libertação da dominação estrangeira. Outros, como os apocalípticos, queriam prever pelos seus cálculos quando o Reino de Deus chegaria. Jesus mostra que o Reino não pode ser imposto por vontade humana, nem tampouco a razão humana pode prever a sua chegada.
O Reino é como alguém que lança a semente na terra, dorme e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando por si mesma. Esta palavra do Senhor nos revela que o Reino de Deus possui em si mesmo uma força de crescimento. Em Cristo, qual semente caída na terra, o Reino de Deus já se aproximou (cf. Mc 1,15). A nós cabe somente lançar a semente da Palavra e vermos que o Reino cresce por si mesmo, independente de nós. A nós é dada a simples função de semeá-lo, mas o crescimento quem promove é o próprio Deus.
Esta Palavra nos lembra, também, que a consumação do Reino, ou seja, o seu pleno estabelecimento, se dará no fim dos tempos. Afinal, em Cristo, o Reino de Deus se aproximou. Ele próprio é o Reino. Na Igreja, que foi com Ele identificada, e está unida como a esposa a seu esposo, vemos os sinais do Reino, já presente e atuante, mas ainda não de forma definitiva (LG 5: a Igreja é o germe e o início do Reino). Nós esperamos ansiosamente pela consumação final do Reino. Esperamos que Ele, o Cristo, venha no fim dos tempos e o seu Reino definitivamente se estabeleça.
É exatamente isso o que pedimos diariamente na Oração do Pai Nosso: “Santificado seja o vosso Nome. Venha a nós o Vosso Reino.” E São Cipriano nos ensina no seu Tratado sobre a Oração do Senhor[1]: “Pode-se igualmente, irmãos diletíssimos, entender que o próprio Cristo é o reino de Deus, cuja vinda pedimos todos os dias. Estamos ansiosos por ver esta vinda o mais depressa possível. Sendo ele a ressurreição, pois nele ressurgimos, assim também se pode pensar que ele é o reino de Deus, pois nele reinaremos. Pedimos, é claro, o reino de Deus, o reino celeste, já que há um reino terrestre. Mas quem já renunciou ao mundo está acima desse reino terrestre e de suas honrarias.”
A segunda parte da parábola nos mostra como o Reino de Deus tem um início modesto, mas aos poucos cresce e se torna uma árvore na qual todos os pássaros vêm fazer seus ninhos. Essa parábola nos lembra diretamente a primeira leitura, na qual Deus promete que Ele mesmo tirará um galho da copa do cedro e o plantará num alto e elevado monte de Israel (cf. Ez 17,22). Este povo se tornará novamente tão grande que será como uma árvore frondosa, na qual os pássaros virão e farão seus ninhos. Como nos recorda o salmista: “até mesmo o pardal encontra abrigo em vossa casa” (Sl 83). O Senhor promete humilhar as árvores frondosas e fazer secar as árvores verdes, ou seja, o Senhor derrotará por Israel as grandes nações que a Ele se opõem. Contudo, ele exaltará a árvore rebaixada e fará brotar a árvore seca, o próprio Israel.
Essa profecia se realizou neste Evangelho que acabamos de ler. Cristo é o Reino. Ele é o pequeno grão de mostarda, caído na terra e morto, não por seus próprios pecados, mas pelos nossos. Todavia, Ele que parecia uma árvore seca e uma árvore baixa, foi elevado pelo Pai e ressuscitou para nossa salvação. A sua cruz é a árvore da vida, frondosa e ampla, na qual todos nós, quais pássaros em busca de lugar seguro para seus ninhos, encontramos abrigo e proteção. A Igreja, identificada com seu Senhor, é essa árvore frondosa, que acolhe em seus galhos pássaros vindos de todas as nações da terra.
“Como é bom agradecermos ao Senhor” pelo dom da sua Palavra, pelo dom do seu Corpo e Sangue dado a nós, a seiva que nos revitaliza e enche de esperança. Participemos desse Banquete que é anúncio e prefiguração do Reino que está por se consumar, até o dia em que comeremos do Banquete do Reino dos Céus!
[1] Cf. LH Vol. III, pp. 328-329